7 de abril – Dia Mundial da Saúde.
Neste Dia Mundial da Saúde, em meio à devastadora pandemia da Covid-19, ouvimos de profissionais da Beneficência Portuguesa que, cuidar da saúde é a palavra de ordem, porque o colapso da área na Baixada Santista não difere do que acontece noutras partes do mundo.
Criada em 1948 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância da preservação da saúde para ter uma melhor qualidade de vida, bem como alertar sobre os principais problemas que podem atingir a população mundial, a data é hoje, mais que dantes, destinada à reflexão.
“Estamos numa batalha e precisamos ganhar”
Solicitamos ao presidente da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos, Ademir Pestana, uma palavra que defina o atual momento e ele disse: “Estamos em guerra”, complementando: “… e não podemos perder uma batalha sequer”.
Ademir diz que no início do ano passado não podia imaginar a proporção da covid-19 e hoje se preocupa com o desencontro de informações e de ações, especulação financeira e politicagem em torno de assunto tão grave que é a pandemia, que por mais conhecimento que a classe médica tenha, um ano depois continua uma desconhecida, apresentando a cada dia, a cada caso, situações novas, diferentes.
“Não imaginava esse enfrentamento. Uma pandemia em tempo de farta tecnologia com tantos desafios. A Covid-19 apesar de todo avanço da Ciência e da Tecnologia é um desafio à classe médica que tem se dedicado ao extremo nessa luta para derrota-la e consequentemente salvar vidas. Pela velocidade da disseminação da doença, faltam medicamentos, equipamentos e até profissionais pois, muitos, vencidos por ela ou pelo cansaço, são afastados do trabalho insano que é a batalha contra esse inimigo invisível.
Entendo que estamos em guerra e temos que sair dela vencedores, por essa razão me preocupa, como gestor na área da Saúde, a roupagem política dada à pandemia. O desencontro de informações e de ações não dá à população a certeza de qual caminho seguir. É preciso que uma única voz se faça ouvir, porque chegamos a um ponto crucial. Além de não termos um remédio específico para o combate à covid, faltam medicamentos até então utilizados no tratamento da doença, cuja combinação tem sido essencial para salvar vidas. Muito do que falta para vencermos essa luta, também, deve-se à especulação financeira, cujos responsáveis seguem o lema ‘quanto pior melhor’ esquecendo que estamos lidando com vidas.
Apesar de tudo, acredito que ainda podemos comemorar o Dia Mundial da Saúde, pelas novas técnicas e equipamentos que independentemente da pandemia, salvam vidas e pelo esforço e dedicação dos profissionais da Saúde na linha de frente dessa guerra contra a covid-19”.
“A vida é o bem mais importante”
Preservar a vida é para o Dr. Mario da Costa Cardoso Filho, Diretor Técnico da Instituição, necessidade básica e para isso não há esforços que possam ser deixados de lado, muito menos quando se originam do trabalho científico cujo objetivo é compreender, explicar e, se possível, controlar os fenômenos.
“Entendo que esse dia é para uma profunda reflexão, porque a preocupação não é só para com o momento estressante, angustiante pelo qual estamos passando, mas para com o futuro. Preocupação de como será o enfrentamento de situações como essa que tende a se repetir. Não dá para comparar a atual pandemia com as anteriores. Tudo é diferente daquilo que vivemos, mas a grande diferença está no ser humano, porque de forma mais rápida do que pudéssemos imaginar, surgiram as vacinas, única medida para nos livrar da covid-19 e o que aconteceu? O homem (ser humano) não se engrandeceu. Pelo contrário, em função de seu comportamento a luz da Ciência foi contestada. Esqueceram os que menosprezam a Ciência, que somos tão frágeis que uma única célula nos derruba, nos aquartela.
No meu ponto de vista a reflexão de hoje é a de que faltou visão política voltada para a Saúde, às autoridades competentes ao não creditar à Ciência o que lhe é devido, porque a vacina é o único caminho para sairmos desse flagelo. E ela foi renegada. Criaram um impasse entre Economia e Saúde, esquecendo que, com a morte não tem setor que se recupere. Afinal, a vida é o bem mais importante. Por isso, o dia de hoje não é de comemoração e sim de preocupação, principalmente por chegarmos à conclusão da pequenez da nossa própria evolução, cuja consequência é a realidade que nos encontramos hoje, com profissionais da Saúde trabalhando à exaustão na luta contra um poderoso inimigo invisível que se fortifica com o negacionismo sobre o caminho apontado pela Ciência para salvar vidas”.
“Não sabemos como cada paciente vai evoluir”
Para Dr. Sandro Rogério Dainez, Diretor Clínico e Responsável Técnico das duas UTIs Covid da Beneficência Portuguesa, é difícil avaliar esse momento.
“Como essa pandemia não vivi nada parecido desde meu início como acadêmico de Medicina (1987). Está sendo muito difícil, nos causa grande insegurança porque nunca sabemos como cada paciente vai evoluir. Tem alguns que chegam estáveis e em poucas horas ficam extremamente graves. Todas as pessoas com quem converso tem alguma história de amigos, familiares que estão graves ou faleceram vítimas da covid.
Vivemos ainda tempos difíceis como médicos porque não temos nem a segurança se teremos medicamentos e equipamentos para atender os doentes graves. Isso tudo está levando os profissionais de saúde ao estresse, depressão, medo, insegurança.
Outra insegurança que estamos passando é que por necessidade de abertura de muitos leitos de terapia intensiva não temos profissionais habilitados para tratar uma doença tão grave quanto essa. Cada vez mais tomamos conhecimento que profissionais com menos experiência estão atuando em setor tão delicado quanto esse. Não adianta abrir centenas de vagas em UTI e não tratar adequadamente os pacientes porque os resultados podem ser catastróficos. Por fim só desejo que todos os profissionais da Saúde continuem firmes para superarmos essa fase tão terrível”.
“Reflexo da falta de saúde do planeta”
Néria Lúcia dos Santos, administradora hospitalar, enfermeira e acupunturista
“O Dia Mundial da Saúde propicia um momento de reflexão, ou deveria… Infelizmente para a maioria das pessoas a saúde não é um item de primeira preocupação. Ter saúde não é só ter um plano médico (plano doença).
É saber cultivar hábitos saudáveis, se alimentar corretamente (abrir menos embalagens), dormir bem, cultivar bons sentimentos. O momento atual demonstra claramente que estamos passando por um período que é apenas um reflexo da falta de saúde do planeta cujos recursos estamos exaurindo com nossa irresponsabilidade. Passar por uma pandemia força-nos a refletir e lutar por soluções.
O mundo está de joelhos por um vírus que tão cedo não nos deixará…como a gripe. Teremos que aprender a conviver com ele e mudar radicalmente nossa postura frente à nossa saúde. Espero, sinceramente, que saiamos melhores e que aprendamos alguma coisa boa de tudo isso. As notícias nos mostram outro cenário, o de disputas políticas ao jeitinho brasileiro de vacinar e tirar vantagem em tudo”.
“Falta de comprometimento”
Perguntamos à Enfermeira Ângela Massing Siqueira, gerente de Enfermagem, como avalia a pandemia da covid-19 na região e sua resposta foi: “Falta de comprometimento”
“Avalio este momento como a personificação da falta de comprometimento da população diante da gravidade da situação atual”.