Sempre que passava em frente à Beneficência Portuguesa em companhia do pai que trabalhava em uma panificadora perto do hospital, a pequena Izabel de Jesus dizia: “quando crescer quero trabalhar nesse lugar”.
Em 2017, uma jovenzinha integrante do Projeto Jovem Aprendiz do Camps, extasiada diante da beleza daquele palacete em estilo neocolonial, debutava na Beneficência Portuguesa. Um ano depois, dias antes de completar o aprendizado, a jovem perdia o sono ao pensar que logo teria que se despedir das inúmeras pessoas com quem travara amizade e daquele prédio que tanto a fascinava. Era o fim do estágio como aprendiz e consequentemente sua despedida do hospital.
No dia 18 de dezembro de 2018, concluiu seu estágio de aprendiz. Longe de ficar feliz com a conclusão de importante etapa de sua vida, a jovem estava muito pesarosa e rezava todas as noites rogando a Deus, aos santos e anjos para ser contratada pelo hospital.
No dia seguinte ao final do estágio, um telefonema. Estava em uma loja de sapatos quando recebeu um telefonema que a fez esquecer o que estava procurando na sapataria. A ligação era da Beneficência Portuguesa informando que ela tinha sido contratada como auxiliar administrativo.
“Nem deu tempo de chorar, de alegria, naturalmente. Saí correndo da loja e num pulo estava na Beneficência com o coração querendo sair pela boca. Eu estava empregada no local onde me tornei adulta e responsável. Era muita felicidade continuar admirando aquela enormidade, aquele prédio centenário e de tantas histórias, e mais, com a contratação deixava para trás a fase de jovenzinha aprendiz. Continuo aprendiz, mas com muito mais responsabilidade. Não esqueço o que um Diretor disse “Se você quer trabalhar aqui agarre essa oportunidade” e foi o que fiz e continuo fazendo” contou a jovem.
Estamos falando da garota simpática, de sorriso largo, do Serviço de Protocolo, Izabel Domingas Santos de Jesus, que tal qual o girassol, sua flor preferida (flor que na sabedoria popular significa felicidade), não se deixa abater pelas intempéries da vida. Como o girassol, oscila com o vento e pode até vergar, mas não cai, não se deixa derrubar.
Nesses tempos de pandemia, apesar da pouca idade, contaminada pela covid-19 que a fez temer, não por sua vida, mas pela de seus parentes, já que sua família sofreu muitas baixas provocadas pela doença, Izabel procurou, da mesma forma que a cor amarela ou laranja das pétalas do girassol, emanar entusiasmo e vitalidade. E como a flor, resplandecer energia positiva à sua volta.
“Desestresso no trabalho e na caminhada”
“A pandemia me trouxe muito medo e tristeza. Fiz aniversário, chegou o dia das mães e nada de abraços. Minha família perdeu muitos parentes vítimas da covid. Em abril, fui diagnosticada com a doença. fiquei isolada. Tive muito medo porque minha família já sofrera bastante com a perda de parentes aqui em São Paulo e em Sergipe.
Gente, mesmo tendo prestado atenção a todas orientações sobre a doença, quando ela chega, ninguém está preparado para enfrentá-la. Ela exerce uma força estranha, parece que a gente vai se desintegrar porque o ataque é muito rápido.
Numa tarde, ao final do expediente, senti falta de ar ao descer um lance da escadaria que usava todos os dias, e ao chegar no ponto de ônibus estava muito cansada. Quando desci no meu destino, estava tão exausta que não conseguia andar, praticamente me arrastei até minha casa e logo fui ao Pronto Socorro. Testei positivo para covid, passei duas semanas em isolamento. Mesmo sendo uma forma mais branda da doença, a sensação era a de estar esmigalhada e sozinha apesar dos familiares na casa.
Agradeço a Deus todos os dias, porque voltei, estou trabalhando e me sinto bem e de forma indireta, ajudando as pessoas a se cuidarem, porque sigo os protocolos e passo as orientações adiante.
Estresse? Quem não fica estressada com a covid à solta? Circular pela casa, sentar-se à mesa com a família desestressa qualquer pessoa que passou por um isolamento. Voltar ao trabalho e à caminhada completa minha receita para eliminar o estresse”.
Concluindo sua narrativa, com os olhos brilhantes, Izabel, se referindo ao jardim principal da Beneficência (fronteiriço à Av. Bernardino de Campos) pergunta: “Tem estresse que resista à contemplação desse jardim maravilhoso, onde adoraria ser um girassol?”.
* Izabel, você é o que sonha ser. Srta. Girassol, feche os olhos, sinta-se no canteiro mais florido do jardim da Benê e se deixe embalar pela frase de Fernando Pessoa:
“Só o que sonhamos é o que verdadeiramente somos, porque
o mais, por estar realizado, pertence ao mundo e a toda gente”
1 Comment
Lindo , comovente , um texto de grande aprendizado e superação ….. Deus esteja sempre contigo e na sua caminhada fui às lágrimas por 2 vezes , mas, admiração é visível …. Parabéns minha boneca que nosso senhor Jesus Cristo, esteja sempre contigo