O que tem a ver Medicina com a vida no mar, mais precisamente na Marinha? Para o protagonista do Xô estresse!!! de hoje (29 de outubro), muito, quase tudo… tudo, porque na sua concepção as especificidades de cada uma se completam, principalmente no tocante à responsabilidade ao lidar com o contraditório da força da vulnerabilidade dos extremos da condição humana e com o terreno fértil e imprevisto da natureza.
Não é à toa que ele diz que a Beneficência Portuguesa é sua segunda casa desde 1982 e que nos primeiros anos era seu principal, endereço, afinal passava mais tempo no hospital que na casa dos pais. O protagonista do Xô estresse!!! conheceu o universo da Beneficência Portuguesa quando cursava o 6º ano da Faculdade de Medicina de Vassouras, no Rio de Janeiro – último ano – internato. Depois veio a residência e aí ficou porque após essa etapa, foi incorporado à equipe de Clínica Médica. Na sequência fez especialização em Hematologia e Hemoterapia.
Estamos falando do hematologista e hemoterapeuta Marcos Vinicius Porta Nova (foto), responsável técnico substituto da Agência Transfusional do hospital que, se não fosse médico estaria na Marinha porque adora o mar e seus desafios ou ainda em um estaleiro construindo navios.
“Construir navios desestressa”
Já que não se tornou armador e nem dono de Agência de Navegação como seu avô Victor Porta Nova, e não serviu à Marinha por ter optado pela Medicina, à sua moda, Dr. Marcos Vinicius concretizou seus sonhos: ser médico e ‘armador artesanal’ e exerce as duas ocupações nos seus endereços: Beneficência Portuguesa e em sua residência. No primeiro endereço trabalha estudando, pesquisando e tratando as doenças do sangue. No segundo, sua residência, em cujo escritório reservou espaço onde mantém um fictício estaleiro para construção de embarcações de palitos de sorvete, e guardadas as devidas proporções constrói e conserta embarcações, desde pequenas canoas a grandes transatlânticos como o famoso **Titanic.
Com essa apresentação fica fácil imaginar qual o antiestresse adotado pelo Dr. Marcos Vinicius nessa pandemia da covid 19. Construir navios, naturalmente.
Primeiro médico da família, agora tem mais um, sua filha, formada recentemente pela Fundação Lusíada, é o próprio Marcos Vinicius que nos conta sua vivência na Beneficência Portuguesa e o antídoto que usa em doses homeopáticas contra o estresse.
“A Beneficência é minha segunda casa, pois foi o hospital que me abriu as portas para a profissionalização. Em 1982 quando ainda era sextanista, já tinha certeza que era aqui que eu queria seguir carreira, porque tudo aqui me encantava e ainda me encanta. Todos os cantos da Beneficência são significativos, mas o mais marcante para mim é o Hospital Santo Antônio, onde hoje funciona a parte administrativa, não apenas por ser *tombada, mas porque passava a maior parte do tempo nessa área, mais precisamente no 2º andar, onde funcionava a internação feminina do SUS, (a ala masculina funcionava no 1º pavimento). Consumia de duas a três horas passando visita aos pacientes. Nessa época meu dia era dividido entre o atendimento no Pronto Socorro SUS, cujo acesso era pela Rua Monsenhor Paula Rodrigues,180, e a internação. No plantão eram dois médicos (um interno e um plantonista). Eu dividia o plantão com a Dra. Lilian Mendonça.
Concluídas todas as etapas, como profissional comecei na Clínica Médica e logo depois surgiu o interesse e a oportunidade para a Hematologia. Fiz a especialização e passados tantos anos, continuo apaixonado pela Clínica Médica, pela Hematologia e pela Beneficência Portuguesa. Olho para esse prédio (Hospital Santo Antônio) e o filme da minha vida me vem à mente e revejo cada detalhe da minha trajetória, cada um dos colegas que por aqui passaram e com muita alegria, os que aqui continuam”.
Nessa viagem no tempo, Dr. Marcos Vinicius diz que a pandemia da covid-19, com certeza mexeu com as pessoas e o estresse, principalmente na área da saúde foi e é inevitável.
“Há pelo menos 30 anos construo navios com palitos de sorvete. Isso tem sido meu desestresse e agora, mais que nunca é uma forma de me desligar desse mundo real, no qual a pandemia continua a fazer vítimas. É um trabalho artesanal que exige concentração, paciência e muita atenção. Ele desestressa aos poucos, porque a cada dia vou montando as peças. Comecei sem qualquer orientação. Via um cartão-postal e tentava reproduzir, sem muita técnica. Fui aperfeiçoando a prática e hoje o trabalho é mais preciso e às vezes, conto com o auxílio da minha filha.
Uso palitos de sorvete, cola, lixa e tinta. Dependendo da embarcação o trabalho leva dias e até meses, porque não me dedico a essa tarefa diariamente. Um dos navios que deu muito trabalho foi o conserto do Titanic que chegou ao ‘estaleiro’ com o casco montado, mas com a parte de cima destruída. Ao concluir, olhando as fotos do navio, conferindo todos os equipamentos montados, todos os detalhes, a sensação de que nas horas de folga fiz um bom trabalho, me diverti na concentração da produção de cada pecinha e da montagem, e mais importante, nem vi tempo passar. Quando concluo uma embarcação, nem lembro mais que o estresse existe”.
Professor, Dr. Marcos Vinicius Porta Nova, antes de assumir a chefia do Banco de Sangue, hoje Agência Transfusional, foi chefe do Serviço de Clínica Médica, do Pronto Socorro Particular e recebeu forte influência do avô e do pai com relação a paixão por embarcações, pelo mar. E ele, com certeza influenciou a filha na escolha da profissão, pois desde cedo ouvia dele as leituras dos livros sobre a profissão.
*O prédio do Hospital Santo Antônio foi tombado em dezembro de 2012.
**O Titanic foi um navio de passageiros britânico projetado para ser o navio mais luxuoso e mais seguro de sua época, partiu em sua viagem inaugural de Southampton para Nova Iorque em 10 de abril de 1912, com mais de 1500 pessoas a bordo. Ele colidiu com um iceberg na proa dianteira do lado direito às 23h40min do dia 14 de abril e afundou na madrugada do dia seguinte, sendo um dos maiores desastres marítimos em tempos de paz de toda a história. Seus destroços só foram localizados em 1985.
1 Comment
E eu que achava que pescar (coisa que eu não faço) era o máximo da paciência. As minúcias que envolve a ‘construção’ de uma peça como esta é simplesmente incrível. Olhando de pertinho é simplesmente incrível, cada detalhe é impressionante.