A protagonista do Xô estresse!!! de hoje faz parte da nova geração de avós que mal atingiram os 45 anos, mas já conhecem o amor açucarado, um dos traços que identificam, na grande maioria das vezes, esses entes adorados conhecidos por netos.
Estamos falando da recepcionista Edna Aparecida Leite, há 24 anos na Beneficência Portuguesa, onde começou no Serviço de Nutrição e Dietética como auxiliar de cozinha, depois passou a copeira e há 3 anos está na recepção da portaria do Hospital Santo Antônio, onde recepciona entre tantas pessoas, inúmeras avós com uma infinidade de histórias para contar.
Devido a pandemia da covid-19 e em função de pertencerem ao grupo de risco, essas senhorinhas (as avós) que já fazem parte do universo de trabalho de Edna, não têm ido à recepção em busca do acesso à visita de parentes e amigos internados em um dos hospitais da Beneficência.
E Edna que não tem o estereótipo de avó, a avozinha que povoa nossa mente como aquela senhorinha de cabelos brancos, pantufas confortáveis, sentada em uma cadeira de balanço tricotando ou fazendo crochê, muito pelo contrário, é uma avó que tem um agenda cheia de compromissos, trabalha fora de casa, mas como vovó de qualquer idade, chora de rir com o casal de netos (3 e 10 anos), com quem, graças ao vigor da pouca idade, joga bola, brinca de boneca, rola no chão e bem rápido esquece a dor nas costas.
“Viro criança e sonho com um mundo melhor”
Reacreditar na vida, é segundo Edna Aparecida, uma das melhores coisas que a função de recepcionista lhe permite. Ela diz que o sorriso de uma pessoa que volta da visita hospitalar ao parente internado que apresenta melhora, é uma dádiva. Mas, em tempos de pandemia tudo muda. As pessoas vivem tensas, e não raro chegam às lágrimas ao simples fato de mencionar o nome do parente internado.
“Voltar a ser criança com os netos e sonhar com um mundo melhor, sem pandemia, com as pessoas se abraçando, se visitando como antes e vivendo em um mundo melhor, com mais amor, respeito, sem fome e com esperanças renovadas, fazem parte do meu pacote antiestresse.
As pessoas não vão ao hospital a passeio e na recepção convivemos, mesmo que por curto espaço de tempo, com todo tipo de sentimentos e como mãe, conseguimos ver nos olhos, a dor das pessoas e palavra amiga, o sorriso acolhedor é o que podemos oferecer. Posso garantir que, se a pessoa não vai embora do hospital, feliz, vai, no mínimo, mais calma.
Claro que os perrengues acontecem, e não é raro, famílias inteiras querem entrar para ver o parente internado e nessa pandemia muitos choram por não poder ver o familiar. Isso dói, mas é a vida que exige regras para vivermos.
No meu caso, na pandemia o estresse é maior por causa dos netos. Tenho medo de contrair a doença e contaminá-los, bem como aos demais familiares. Na fase inicial da covid quando estava perto de chegar em casa, passava uma mensagem: “estou chegando, mas não encostem na vovó” e o mais triste era ver a netinha caçula, correr para o abraço e eu ter que desviar. Ela chorava muito e eu sofria mais ainda. Chego e direto para o banho e troca de roupa. Eu tive um câncer de mama e sei a dor, medo, solidão que as mulheres passam. Ficar doente, seja de covid ou de qualquer outro mal é muito triste e um dos agravantes dessa doença é o isolamento. Rezo muito, sou devota de Nossa Senhora Aparecida. Com o isolamento fico muito em casa. Só saio o necessário.
O que me deixa mais triste no hospital e ver o que acontece à pessoa com a covid: se interna e não vê a família, ninguém. Essa tristeza é geral porque é a hora que a pessoa mais precisa de alguém por perto.
Para desestressar brinco com os netos. Com o maior, jogo bola e videogame, com a pequena, brinco de boneca e faço desenho e todos desestressam. À noite rezo e renovo minha fé em Deus. Rezo pedindo para que uma vacina aconteça logo. Assisto filmes com o neto, ele dorme, eu continuo acordada refletindo sobre o momento que vivemos. Antes passeava com os netos na pracinha perto de casa. Hoje viro uma criança grande quando estou com eles em casa. Minha filha sempre usa a expressão: “três crianças juntas”.
Edna que para chegar ao trabalho sai de casa às 5h, e enfrenta o desafio do transporte coletivo intermunicipal, é mais uma colaboradora que considera a Beneficência como o endereço de uma grande família. “É que ela é minha segunda casa. É mais que isso, é como se fosse minha segunda mãe. As pessoas entram aqui e se transformam. Sempre tive muito apoio, mas quando fiquei doente me senti abraçada por todos. Isso me marcou muito. A Benê é uma mãe por quem tenho muito respeito e contemplá-la reforça meu sonho de um mundo melhor”.
Ela entende que seu sonho de um mundo melhor para todos, pode ser utópico, mas não desiste “… o mundo podia ser melhor se as pessoas mudassem. A pandemia está aí, quantos já morreram e as pessoas continuam desafiando a doença, colocando em risco a vida das outras pessoas. Por isso, quando no ônibus a caminho de casa, procuro me desligar pensando no meu pacote antiestresse: os netos e meu momento de orações por um mundo melhor”.
3 Comments
Edna, compartilho com você, o sonho com um mundo melhor
Queria essa avó lá em casa.
Saudades de vc