O estresse está em todo lugar e afeta a todos nós. Uns mais, outros menos, mas dificilmente alguém escapa, principalmente quem trabalha na área da saúde e na linha de frente do combate à covid-19. É possível notar sintomas físicos do estresse? Sim, mas há pessoas que conseguem, mesmo no auge do esgotamento físico e emocional se apresentar com o semblante sereno. E entre essas pessoas estão os trabalhadores da saúde.
Imagine a cena: auge da pandemia do novo coranírus em um Pronto Socorro, onde o trabalho é marcado pela pressão e pelo estresse, e médicos precisam agir com rapidez sem descuidar das medidas de proteção dele, do paciente… Tente congelar a cena por um instante enquanto lembra de uma série de fatores que interferem diretamente no estresse desses profissionais. Conclusão: estresse em alto grau, cuja potência nem a metafísica é capaz de explicar como o cérebro desses profissionais consegue equilibrar a relação entre mente e matéria.
Para tentar entender como controlar o estresse em grau tão elevado, entre um socorro e outro, ouvimos o médico José Luís Vasques Lopes, responsável técnico do Serviço de Urgência e Emergência da Beneficência Portuguesa (um dos profissionais que trabalha na linha de frente do combate à covid-19) que para desestressar, corre, corre sem parar, porque é nítido que a tensão pode lhe possibilitar acender um lâmpada, só de tocá-la.
“Acendo até lâmpada… por isso corro”
Pesquisas sobre o poder da mente explicam que dá para acender lâmpadas captando nossas ondas cerebrais e o Dr. José Luiz diz que corre diariamente de 6 a 7 quilômetros para desacelerar, porque não raro, sente que é capaz de materializar esse fenômeno: acender uma lâmpada só de tocá-la.
Quando devido ao estresse, a lâmpada interna acende, é um turbilhão a faiscar de novas ideias que precisa ter urgentemente a voltagem reduzida para que a mente entre curto circuito… E quando restabelecida a voltagem é o lustre do ambiente que clareia para que a determinação domine a mente a caminho do desestresse.
“O nível de estresse está gigantesco. Às vezes sinto que, se segurar uma lâmpada ela acende. É uma agitação tão dantesca que às vezes não sabe se o que pesa mais naquele momento é o corpo ou a mente, tal o desgaste, com colegas adoecendo, gente estressada e assustada chegando a toda hora.
O que pesa mais? Talvez o físico, porque dói as costas, dói a cabeça, dói isso, dói aquilo. Mas o que nos faz arquear mesmo é o esgotamento mental. Afinal a mente é a viga mestra. Se o mental está comprometido, todo o resto também está. Antes era só cansaço, agora é um turbilhão fervilhando na cabeça da gente. Como amo caminhar, correr, me exercitar, com a academia fechada, só me resta correr na praia, mantendo o distanciamento das demais pessoas.
Corro diariamente de 5 a 6 quilômetros, e quando tenho tempo, até duas vezes ao dia. Nessa corrida faço uma faxina mental esvaziando a mente de tudo que está me preocupando e penso na vida; organizo regras, esvazio o que está resolvido para abrir espaço para o que está por vir. Caminhar, correr e faxina mental me ajudam a desestressar”.
Como todos nós, Dr. José Luiz sente saudades de muitas coisas e espera em breve voltar à rotina que inclui o encontro com os amigos, cinema e cafezinho com bate papo, reafirmando o pensamento do filósofo e biógrafo grego Plutarco: “A mente é um fogo a ser aceso, não um vaso a preencher”.