Em breve entrevista com o cardiologista José Ricardo Di Renzo, um dos coordenadores das UTIs e dos Prontos Socorros da Beneficência Portuguesa, a confirmação de que pessoas em tratamento médico, independentemente da patologia, não podem abandonar o tratamento médico por conta da pandemia da COVID-19 ou por outra situação qualquer.
Toda e qualquer alteração deve ser discutida com o médico, pois em determinadas situações ou momento do tratamento, algumas alternativas como possível troca de medicamento, reagendamento de consulta, etc… podem ocorrer, mas só devem se concretizar com a devida orientação. (confira a entrevista)
1 – Por que pessoas com problemas cardíacos fazem parte do grupo de risco para COVID-19?
Dr. Di Renzo – Os cardiopatas assim como os portadores de outras doenças crônicas e degenerativas não transmissíveis são grupo de risco, face menor defesa imunológica com o transcorrer dos anos e do envelhecimento. A prevalência destas doenças aumenta com a faixa etária. São mais suscetíveis, de maior risco, e que na doença tem maior probabilidade de quadros mais graves. E, estar no grupo de risco é evidente pelo fato de que, do total de doentes com COVID-19, 60% são idosos. Destes, sabe-se que por volta de 45% são cardiopatas. Portanto é um grupo que requer atenção especial.
2 – Por que essas pessoas tem por vezes, alterações no seu sistema imunológico?
Dr. Di Renzo – Sabemos que as doenças cardiovasculares demonstram processo inflamatório crônico que se agrava com a presença de agentes infecciosos como o viral atual. Não esquecer que reduzir comorbidades, manter controle de dieta seja para cardiopata ou portador de outra patologia é fundamental em qualquer circunstância, bem como manter a vacinação em dia. Fiquem atentos para não esquecer da vacinação contra gripe influenza e pneumonia.
3 – A pandemia alterou os hábitos desses pacientes ou eles continuam na rotina de consultas e exames?
Dr. Di Renzo – Sim. No geral, observamos que alguns tiveram consultas postergadas e exames remarcados. Dentro da rotina de pacientes estáveis que já mantinham controle adequado de sua patologia isso pode ser suportado. Mas aquele de situação instável de uso irregular de medicamentos, se torna um risco maior. Na evolução de tratamento regular se faz uma nova programação, mas no paciente em evolução diagnostica isso e um grande problema, por essa razão, entendo que cada caso é uma situação particular que deve ser analisada.
4- Muitas pessoas mesmo sentindo-se mal, temem ir a um Pronto Socorro (medo de contaminação do novo coronavírus). Isso pode agravar o estado clínico de um cardiopata? O que fazer?
Dr. Di Renzo – As pessoas estão inseguras com medo e isto e compreensível. Pode se minimizar sintoma, tentar protelar ida ao serviço de emergência, encontrar dificuldade neste acesso e não ir? Não. *Na dúvida real vá ao atendimento com todo cuidado e precaução.
Compreendam que Pronto Socorro (PS) não é ambulatório. Mas que fique claro, tendo sinais relacionados a sintoma respiratório, tosse, dor de garganta, dores no corpo, cansaço, falta de ar – pode não haver febre -, bem como mal estar geral, dor no peito, palpitação, tontura, com início recente, deve ir a PS. Não ir ao socorro médico de urgência para tirar pressão ou trocar uma receita. Isto a pessoa pede a seu médico – ele faz e você passa e pega, compra ou retira na UBS. Se faz uso de medicamento contínuo, não deixe acabar e não se automedique.
5 – Sabemos que não há redução dos problemas cardíacos, mas devido ao isolamento social, consultórios médicos em sua maioria reduziram suas agendas com relação às consultas de rotina, e o medo de contágio afasta a pessoa do PS. Qual a orientação para evitar o agravamento de problemas cardíacos?
Dr. Di Renzo – Evitar agravamento neste grupo é fundamental. Medidas de prevenção exaustivamente faladas como lavar as mãos com água e sabão, uso do álcool gel, não sair de casa sem uma real necessidade, se isolar, é o básico durante uma pandemia. Neste momento não se faz visitas, não se faz festas. Trabalhe em casa se for possível. Evitem aglomeração e não dispensem o uso de máscara.
Finalizando, o médico ressalta que, “quem está no grupo de risco deve redobrar os cuidados com a saúde sempre, principalmente em tempos de coronavírus”
*Na Beneficência Portuguesa, visando a não disseminação do novo coronavírus, uma reorganização da estrutura funcional da instituição foi realizada, criando um atendimento exclusivo para pacientes suspeitos ou com a COVID-19. Pronto Socorro, internação, centro cirúrgico e todo tipo de atendimento, inclusive refeitório para profissionais envolvidos no trabalho relacionado aos casos da pandemia, totalmente separado dos demais setores dos hospitais Santo Antônio e Santo Clara.