*Ademir Pestana
Compreender melhor o Coronavírus e o que o desencadeou é o grande desafio de médicos e cientistas diante da pandemia em que o mundo se encontra com a mais nova mutação do vírus que já ocasionou outras moléstias variando de simples resfriados a situações graves de síndrome gripal.
Como leigo, acredito que ao declarar o surto do coronavírus Covid-19 como pandemia, palavra forte que por mais que seja usada correta e adequadamente, leva ao mundo o pânico, a OMS – Organização Mundial da Saúde, sinalizou que era hora de adotar medidas para tratar os pacientes em estado mais grave, assumindo que os esforços para conter a expansão mundial do vírus falharam.
Complexo é o quadro de alterações, adaptações e emergências responsável pelo difícil controle das doenças infeciosas. Até porque a erradicação de uma doença não significa que não haja necessidade de manter um sistema de vigilância contínuo, porque ela pode não se manifestar, mas fica resguardada, adormecida em uma área e pode, como temos visto, ressurgir em função da variação de determinadas condições.
É muito angustiante viver o momento apontado como uma emergência de saúde pública de preocupação internacional, provocado pelo Covid-19, que não é um completo desconhecido de médicos e cientistas, já que pertence a uma família de vírus que circula no mundo desde priscas eras. É mais um grande desafio, um flagelo que precisamos e vamos vencer.
Fazendo uma reflexão sobre o passado recente, final do século XX que a pouco atravessamos e uma leitura sobre tempos idos (séculos anteriores) que naturalmente, não vivemos, me espanta e me apaixona a luta ferrenha e vitoriosa (apesar das muitas perdas) da humanidade sobre as inúmeras endemias, epidemias e pandemias. Nem é preciso afinco para observamos que a história dos povos está intimamente ligada às epidemias e pandemias cuja disseminação pelo mundo agora é muito rápida.
Santos, desde o longínquo Século XVI, início da colonização brasileira é porta aberta ao mundo através do porto, no passado apenas uma entrada chamada Porto de São Vicente, na atual Ponta da Praia, depois transferido para o Lagamar Enguaguaçu, atual Valongo, onde não passava de um conjunto de trapiches (Porto do Consulado).
Hoje, por sua condição de maior complexo portuário da América Latina, a Cidade que recebe pessoas de todos os Continentes é, com certeza, portal de acesso à todas as enfermidades, e o Covid-19, doença infecciosa que começou na China e se espalhou pela Terra em muito pouco tempo, razão pela qual medidas drásticas se fizeram necessárias para a garantia do futuro das novas gerações nos inquieta.
E entre essas medidas, o fechamento de fronteiras e o isolamento social, consideradas por muitos como draconianas, não são novas, e por mais que causem indignação se mostram eficazes desde os primórdios. Basta atentarmos para fato de que as pessoas em trânsito favorecem a disseminação de qualquer moléstia, a exemplo da primeira grande pandemia da Peste Negra no fim do período medieval (Idade Média), e bem mais recente, no século XX, a propagação da Gripe Espanhola.
Saindo das páginas da história para a realidade, acompanhamos diuturnamente a luta dos profissionais da saúde e de tantos outros dos quais a Saúde não pode prescindir. Na Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos, que ao longo de seus 160 anos aos dias atuais sempre primou pela dedicação de suas equipes, a exemplo do ocorrido durante a pandemia de febre amarela em 1873, quando as obras do primeiro hospital da instituição sequer estavam concluídas, o desvelo é total.
À época, a situação era tão premente que a direção da Santa Casa em contato com a diretoria da Beneficência cogitou a possibilidade de montar uma enfermaria na pequena parte concluída do prédio. As condições da obra, no entanto ainda não eram propícias à ocupação levando a direção da Beneficência a buscar solução junto ao Mosteiro de São Bento para abrir no local, uma enfermaria para tratamento dos doentes que não encontravam vagas na coirmã Santa Casa.
Hoje, diante da pandemia do Coronavírus que segundo a OMS pode infectar até 70% de toda a população mundial, vejo na Beneficência, a exemplo do que acontece em outros hospitais, trabalhadores de todas as áreas em apoio aos profissionais da Saúde de forma resistente, se superando a cada dia, para reverter a curva ascendente da pandemia, tomando decisões rápidas e executando procedimentos adequados para a contenção da moléstia com o único objetivo, salvar vidas nessa situação de guerra na qual nenhum de nós está imune. Não entremos em pânico, sobreviver ao Covid-19 é o que queremos e é o que viveremos, com cada um de nós fazendo a sua parte.
*Ademir Pestana – presidente da Sociedade Portuguesa de Beneficência e vereador à Câmara Municipal de Santos