Não importa o nível de aprendizado, a primeira aula é sempre marcante. Quer pela novidade, pelo encontro ou reencontro de amigos, quer pelos professores ou até mesmo pelo ambiente, a primeira aula de um curso, com certeza cria uma expectativa em ambas as partes, docentes e discentes.
A situação, o clima, não foram diferentes na recente aula inaugural das novas turmas de Estágio e de Residência Médica da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos, realizada no último dia 1º.
Como em qualquer local onde o ensino acontece, o burburinho era normal naquela manhã, no Salão Nobre da Beneficência Portuguesa. Jovens médicos se encontrando em uma fila nada indiana para assinatura do livro de presença, enquanto outros, mais comedidos já conversavam no salão onde aos poucos a mesa dos trabalhos foi sendo montada.
Primeiro, o presidente da Beneficência, Ademir Pestana foi chamado à mesa, seguido pelo Dr. Miguel Ângelo de Souza (Delegado do Cremesp-Conselho Regional de Medicina de São Paulo e presidente do Centro de Estudos da Beneficência Portuguesa); depois, Dr. Mário da Costa Cardoso Filho (Diretor Técnico da Beneficência e um dos responsáveis pelo Programa de Residência Médica da instituição), a seguir o cardiologista Philipe Rachas Sacab, responsável pela CTI Cardiológica da Beneficência e no ato, representando o coordenador da Comissão de Residência Médica – Coreme – SP, e o coloproctologista Alfredo Fernando Vecchiatti Pommella. Um a um foi ocupando seu lugar, enquanto a plateia ia fazendo silêncio.
Divisor de águas – “Não tenho palavras para expressar minha alegria ao participar, nesta manhã, do início de uma nova etapa na vida das senhoras, dos senhores médicos. Ao longo dos últimos anos na Beneficência, temos acompanhado, temos participado, mesmo que indiretamente, do dia a dia do crescimento de jovens médicos no aperfeiçoamento prático do que aprenderam nos anos de faculdade. E agora, mais um momento importante na vida de vocês: fazer uma especialização que ao final os distinguirá em meio ao grande universo formado pela classe médica. As especializações na Beneficência acontecem sob a responsabilidade da Diretória Técnica e da Diretoria Clínica e oferecem o melhor em termos de conhecimento porque reúne entre os professores, renomados profissionais, contribuindo para aperfeiçoar cada vez mais o ensino médico no País. Tenho certeza que a Residência Médica será o divisor de águas na vida de todos vocês”
Em seu discurso de saudação aos médicos, Ademir Pestana ressaltou a importância da parceria da Beneficência com o AngioCorpore Instituto de Medicina Cardiovascular presidido pelo cirurgião vascular Marcello Romiti, no Programa de Residência Médica aprovado pelo Ministério da Educação (MEC) e Conselho Nacional de Residência Médica, também, pela Sociedade Brasileira de Anestesiologia.
Emoção – Diretor Técnico da Beneficência Portuguesa, o clínico geral Mário da Costa Cardoso Filho, diretor da AMB-Associação Médica Brasileira que juntamente com o diretor Clínico do Hospital, Alfredo Pommella é responsável pelo Programa de Estágio e Residência Médica, emocionou a plateia ao falar sobre a importância de presenciar o início de novas turmas em mais uma etapa do aprendizado constante que é a vida médica, citando entre os presentes, o clínico geral e cardiologista Dr. Luiz Alberto Barreto, decano da Beneficência Portuguesa, tido como espelho para gerações de profissionais da Medicina.
“Cito com carinho, a presença do Dr. Barreto, com quem formamos a ala de resistência em se tratando de tempo de profissão desse hospital, onde vocês representam a ala jovem e a quem gostaríamos de lembrar que Medicina é ciência, mas antes de tudo é amor ao próximo. Amor que se traduz no desenvolvimento da profissão com humanidade. Posso garantir aos jovens médicos que essa forma de exercer a profissão é uma prática que está sendo resgatada, em todos os sentidos aqui nessa casa. Me emociono cada vez que falo sobre Medicina, sobre esse hospital, porque aqui nasci duas vezes; primeiro para a vida e depois para a profissão como estagiário em 1969. Aqui galguei todos os postos e quando me dei conta era presidente da Associação Médica Brasileira (duas gestões) e depois ocupando outros postos em entidades relacionadas à área da Saúde. Hoje, diretor técnico dessa instituição me sinto mais realizado porque estou na minha casa, onde se pratica Medicina de ponta, mas com amor. Aqui aprendi com colegas como o Dr. Barreto, que sem humanização a Medicina não é completa, por isso, meus cumprimentos à diretoria da Beneficência Portuguesa por resgatar essa prática que difere os profissionais e a Instituição”.
Emocionado, o diretor técnico passou a palavra ao cirurgião cardiovascular, Miguel Ângelo de Souza, delegado do Cremesp, que em seu pronunciamento comentou a resolução do Conselho Federal de Medicina que revogou a resolução 2.227/2018 que regulamentava a telemedicina, prática que permitiria consultas médicas, cirurgias, bem como dar diagnósticos à distância.
Olho no olho – “A decisão do Conselho Federal de Medicina aconteceu após protestos de médicos e entidades. Afinal, não avançamos tanto na Medicina para nos deixar levar pela facilidade e comodidade oferecidas pela tecnologia em detrimento de maior aproximação com o paciente e da humanização dentro da nossa profissão. Precisamos ficar atentos porque essa batalha ainda não está definida. Não podemos esquecer que o estudo da Medicina não cessa nunca, basta lembrar que a cada 10 anos, 50% do que aprendemos torna-se obsoleto e a tecnologia não suplanta o poder do olho no olho entre médico e paciente. Podemos operar com orientação à distância sim, mas a palavra não pode ser substituída por qualquer tecnologia. Temos que estudar constantemente e como presidente do Centro de Estudos da Beneficência Portuguesa, coloco-me à disposição dos senhores. Se necessário, dou a mão e leve-os até o leito do paciente. Se perdermos o amor pela profissão, como disse Dr. Mário Cardoso, teremos fracassado em nossa missão”.
Um dos preceptores da Residência Médica em Cardiologia, o especialista Philipe Rachas Sacab, em sua fala deu continuidade ao tema humanização, reverenciando os funcionários dos mais diferentes setores da Beneficência Portuguesa e do AngioCorpore no trato, não apenas para com pacientes, mas para com os médicos e em especial aos estagiários e residentes.
Um filho – “Trato essa Residência Médica como a um filho. Independentemente de conhecer os demais colegas (preceptores e professores do Programa) e saber que estarão á disposição de vocês, quero que saibam que estarei sempre disponível e que me sinto feliz quando procurado para esclarecer dúvidas, trocar ideias sobre procedimentos e diferentes casos porque isso significa confiança por parte de vocês, o que só aumenta minha responsabilidade. Vivemos hoje, na Beneficência, um momento muito maduro da Residência Médica e eu aprendo muito no dia a dia do hospital com todos vocês, com quero continuar crescendo e dando o meu melhor para que evoluam sempre”.
Lágrimas – O tom emotivo marcou a recepção aos novos estagiários e residentes que juntamente com os médicos mais experientes da instituição, viram ao final, o diretor clínico, Alfredo Fernando Vecchiatti Pommella, chegar às lágrimas, quando após falar de compromisso e dever ao iniciarem importante etapa para a vida de médico especializado em determinada área da profissão.
“A partir do momento que vocês colegas foram aprovados para essa nova etapa de estudos enquanto médicos, assumiram tanto quanto nós, deveres, obrigações. Da nossa parte é transmitir o melhor do nosso conhecimento e vivência, e tenham certeza que daremos o máximo para que esse Programa faça a diferença na vida profissional de todos vocês e que em breve se torne referência nesse tipo de ensino”.
Já com a voz embargada e com lágrimas nos olhos Pommella tentou concluir o raciocínio “É muito difícil eu sei, porque isso depende de cada um, mas se necessário for tentarei ensinar a paixão pela profissão, se é que isso é possível… eu queria… nesse primeiro dia, falar muita coisa, mas só consigo dizer sejam felizes, aproveitem essa etapa que como todas na vida dentro da Medicina é fascinante…”
Novas turmas – As novas turmas, no total de 45 alunos estão assim distribuídas:
Residência Médica: Cardiologia, Clínica Médica, Cirurgia Vascular, Cirurgia Geral, Cirúrgica Básica e Cancerologia Clínica.
Estágio: Clínica Médica, Cardiologia, Anestesiologia, Radiologia e Diagnóstico por Imagem, Angiorradiologia e Cirurgia Vascular. Os cursos têm duração de até 3 anos).
Prestigiando a aula inaugural, lá estavam entre os presentes, além do Dr. Luiz Alberto Barreto, Dr. Guines Antunes Alvarez, Dr. Sandro Rogério Dainez e Dr. Marcello Romiti (dois dos preceptores dos novos residentes), Dr. Bruno Barreiro e a Sra. Maria de Lourdes dos Santos, diretora secretária da Beneficência.