Se viver em meio a uma revolução é tarefa muito difícil e exige coragem e determinação, calcule a vivência em uma guerra. Esse último cenário é com certeza a visão do inferno de Dante multiplicado várias vezes, especialmente se quem nela se encontra lutando para não matar e principalmente para não morrer é um jovem ainda na puberdade. Sobreviver a qualquer custo passa a ser o lema, como relatou o comendador José Duarte em seu pronunciamento na celebração dos 50 anos da Revolução dos Cravos. Extremamente estressante, perigoso e traumático que exige esforço supremo para viver em conformidade com a realidade após sobreviver às sangrentas guerras coloniais promovidas pela ditadura salazarista. Discurso sobre realidade recente para que ela não se repita.
25 de Abril e 25 de Novembro
*José Duarte de Almeida Alves
Hoje, dia 25 de abril em que se comemora 50 anos da revolução dos cravos. Lembro-me muito bem do 25 de abril de 1974 e de quase tudo que se passou a seguir. Lembro-me como hoje, tinha 25 anos e havia chegado recentemente da Guiné Bissau, onde cumpri parte de meu serviço militar obrigatório. A serviço de minha pátria.
Foram tempos intensos e exigentes. E, ainda quanto foram duros, difíceis e perigosos, lembro-me como as dores de parto da Democracia. Ninguém ia para a política por interesse pessoal, para capturar uma benesse ou obter um lugarzinho. Nesses meses de política total, soprando pela sociedade quantas vezes alucinante, ia-se para a política por algo maior do que cada um, para definir rumos dos nossos estreitos horizontes. Sou privilegiado por ter vivido esses tempos.
O 25 de abril é o 25 de novembro, assim como o 25 de novembro é o 25 de abril: um não existiria sem o outro. O 25 de abril não é só o golpe político-militar de 1974, que devemos ao Movimento das Forças Armadas.
O 25 de abril é o processo político complexo, de tensão revolucionária e ação democrática, que se desencadeou em 1974 e se concluiu um ano e meio depois. 0 25 de novembro de 1975 parou definitivamente a derrapagem revolucionária do PREC (Processo Revolucionário em Curso) e do “Verão Quente” e assegurou a afirmação, também definitivamente, das instituições democráticas.
O 25 de novembro permitiu que nós tenhamos o 25 de abril para festejar. Impediu que o perdêssemos. Sem o 25 de novembro, não haveria este 25 de Abril da Liberdade e da Democracia que celebramos. E, não haveria 25 de novembro, se não tivesse havido 25 de abril e não houvesse que o proteger e reafirmar.
Em abril de 1974 as Forças Armadas saíam a rua em defesa dos ideais da liberdade e da Democracia. Em novembro de 1975, apoiadas pela Polícia de Segurança Pública e pela Guarda Nacional Republicana, de novo intervieram para assegurar que a liberdade não seria traída.
As ameaças que o país enfrentou naqueles últimos anos não chegaram para impedir que o povo português definisse livremente o projeto político da nova sociedade. A disputa política quase levou a confrontação violenta entre as forças empenhadas na Democracia pluralista e as forças interessadas em novas ditaduras, permitiu que a Constituição da
República definisse as metas e os caminhos que estão guiando o povo português e mobilizar o seu esforço na construção de um país mais rico e mais igual para legar as gerações que despontam nos horizontes da vida!
PORTUGAL E BRASIL SEMPRE JUNTOS E UNIDOS.
*José Duarte de Almeida Alves – Presidente do Centro Cultural Português, Conselheiro das Comunidades Portuguesas -Foto/Helena Silva
(25 de abril de 2024)