Comunicação e Cultura aliadas pela Democracia
Ao celebrar os 50 anos da Revolução dos Cravos que marcou o início da redemocratização de Portugal após 48 anos da ditadura (41 dos quais sob o jugo salazarista), a Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos, fundada a quase 165 anos por portugueses aqui residentes, destacou a importância da Comunicação e da Cultura a serviço da paz e da liberdade do povo lusitano que unindo forças antagônicas promoveu uma revolução ímpar na história da humanidade.
A cultura teve papel fundamental na *Revolução dos Cravos, afinal foi por meio da música que se deu o efetivo início ao processo que libertou Portugal de um das mais longas ditaduras do Século XX no Continente Europeu. E, para que a população acompanhasse os passos decisivos para o processo revolucionário deflagrado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), as senhas musicais foram anunciadas e tocadas por duas emissoras de Rádio, veículo de comunicação mais popular à época.
Justificando o destaque à música e ao serviço radiofônico no movimento de libertação de Portugal, para a celebração realizada exatamente 50 anos após a Revolução dos Cravos, ou seja, no último 25 de Abril, a Beneficência Portuguesa contou com a participação do Coral e do Rancho Folclórico Verde Gaio, do Centro Cultural Português, além da cantadeira Conceição Aparecida Fernandes. E a relevância ao trabalho das rádios ficou a cargo do ator Fabiano Santos e da professora Márcia Gouveia.
Música – Sob a regência do Maestro Mário Tirolli, o Coral do Centro Português, além da apresentação dos hinos de Portugal e do Brasil, também foi responsável pela execução das senhas musicais anunciando a deflagração da Revolução, com as canções “E depois do adeus” de José Niza e José Calvário, interpretada por Paulo de Carvalho, uma bela canção, verdadeiro poema, muito popular, portanto não levantaria suspeitas e “Grândola Vila Morena” do cantor e compositor português Zeca Afonso, que reflete um ideal de igualdade e fraternidade, onde o povo é colocado como o principal agente de decisão acima de qualquer poder autoritário, por isso, proibida pela ditadura.
O Coral ainda brindou a plateia com a belíssima composição de Dulce Pontes, “Canção do mar” e a cantadeira Conceição Aparecida Fernandes acompanhada do maestro Tirolli continuou elevando às alturas, a emoção dos presentes ao interpretar “Lisboa menina moça”, uma ode do fadista Carlos do Carmo à capital portuguesa.
Os músicos e dançarinos do Rancho Verde Gaio tendo à frente o diretor Vasco Frias Monteiro e o ensaiador Wallacy Rodrigues de Andrade transformou parte do salão nobre em um canto da Praça do Comercio ou Terreiro do Paço, da Baixa de Lisboa e convidou o público a cantar e dançar, tal qual aconteceu há 50 anos naquele local, quando a euforia tomou conta do povo português que celebrou a vitória contra a ditadura.
Pela Rádio – Atentos aos meios de Comunicação, jornal impresso e rádio, os portugueses leram, na edição de 24 de abril de 1974, do jornal “República” uma discreta nota para que
o povo sintonizasse a rádio Alfabeta nessa noite. Nessa data, às 22h55, a rádio dos Emissores Associados de Lisboa começa a transmitir a canção “E Depois do Adeus”, interpretada por Paulo de Carvalho, e tem início as operações do MFA.
Na madrugada do dia seguinte, 25 de abril, às 00h20 a transmissão, dessa vez pela Rádio Renascença a música “Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso, a senha utilizada pelo MFA para informar que: a revolução estava em marcha acelerada e as operações militares seriam levadas adiante.
As senhas foram anunciadas respectivamente pelos locutores: João Paulo Diniz e Leite Vasconcelos, que na celebração realizada na Beneficência foram interpretados pelo ator Fabiano Santos. A performance da professora Márcia Gouveia, deu vida às incontáveis mulheres que ao pé do rádio, com o inseparável terço na mão e em oração, aguardava o anunciar das senhas que prenunciavam o fim dos longos 48 anos de angustia, repressão, dor da perda de entes queridos, inclusive filhos adolescentes, nas insanas guerras coloniais decretadas pelo regime ditatorial.
Prestigiando o evento, entre os presentes: Prof. Clóvis Pimentel, diretor da União Brasileira de Trovadores; Dra. Marli Diniz, vice-presidente do Conselho Deliberativo da Beneficência Portuguesa; João Carlos Moreira, presidente da Center Limp; Elson Esterque, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Praia Grande, acompanhando de seu vice Dr. Gabriel Rezende; Shirley Bezerra, presidente da ONG Amigas do Peito de Bertioga; Sra. Áurea Viegas Amoreira, na pessoa de quem foram cumprimentadas todas as mães presentes; Padre Rosivaldo Vieira, Capelão da Beneficência Portuguesa e Paulo Eduardo Costa, do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, além do Sr. Luiz Alberto Ferreira, vice-presidente do Elos Clube de São Vicente.