O Hospital Beneficência Portuguesa (HBP) reuniu representantes da comunidade lusitana da região para celebrar os 49 anos da restauração da Democracia de Portugal, uma conquista sem precedentes, quando as ruas e praças foram tingidas de vermelho (não de sangue, mas cravos vermelhos) ao som de cantos e gritos, (não de tristeza ou dor), de música e alegria.
A Revolução dos Cravos, de 25 de abril de 1974, como ficou conhecido o movimento que uniu civis e militares pela democracia de Portugal, após 41 anos da ditadura salazarista, anualmente é festejada pela Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos, (mantenedora dos hospitais Santo Antônio e Santa Clara), uma casa de origem portuguesa com certeza, que nasceu na cidade de Santos há 163 anos.
A celebração aconteceu no último 25 de abril, quando portugueses, descendentes e amigos cantaram emocionados, os hinos do Brasil, de Portugal e a canção “Grândola Vila Morena”, considerada o hino da Revolução do Cravos, diante da mesa presidida pelo poeta Luiz Vaz de Camões, um dos filhos mais ilustres da pátria portuguesa. O busto de Camões, uma das relíquias do acervo histórico da Beneficência, reinou absoluto representando a presidência da solenidade festiva e daqueles que, com atos e palavras, lutaram (não uma luta armada) com uma canção soltando a voz para dar forma aos ideais de liberdade.
Atrizes, cantantes, músicos, dançarinos, depoentes e poetas se misturaram como se na Praça do Comércio ou Terreiro do Paço, em Lisboa (palco da Revolução), estivessem, na madrugada de 25 de abril de 1974 e cantaram com o Coral do Centro Cultural Português, dançaram com os componentes do Rancho Folclórico Verde Gaio, após assistirem a saudação do poeta e escritor Flávio Viegas Amoreira e a performance da escritora e poetisa lusa Teresa Teixeira e da jornalista Noemi Macedo. Os três homenagearam as escritoras Natália de Oliveira Correia e Sophia de Mello Breyner Andrens que através das letras, mesmo censuradas e perseguidas, lutaram pelos direitos humanos e direitos das mulheres portuguesas.
Ao final da noite festiva, que teve apresentação de vídeo sobre momentos da revolução, com som original, antes do pronunciamento do presidente da Beneficência, Ademir Pestana, os comoventes depoimentos de duas mulheres lusitanas Celeste da Conceição Bio e Noêmia da Anunciação Serra Augusto que viveram a Revolução dos Cravos.
Celeste, no centro dos acontecimentos em Portugal, onde junto com familiares, na madrugada, ouviu incrédula, a música proibida de Zeca Afonso “Grândola Vila Morena”, o sinal de que a revolução estava em andamento e foi para a praça conferir os acontecimentos. Noêmia, na Baixada Santista, recebia do pai, a notícia do levante português e com ela (notícia) o desvendar de particularidades da difícil realidade da vida em ditadura, quando famílias se dividem seguindo lados diferentes. Depoimentos emocionados, contundentes e porque não, sofridos. Relatos de uma mesma realidade vivida por duas mulheres em diferentes circunstâncias e locais. Sentimentos antagônicos que só que viveu pode mensurar o hiato que separa o riso do choro pela mesma causa.
“Democracia é a maior conquista de um povo” disse o presidente Ademir Pestana, saudando e agradecendo aos presentes, inclusive, Camões, em nome de quem se referiu a todos os portugueses que lutaram pela restauração da democracia em Portugal “terra mãe do Brasil”, Antes dele, falaram o presidente do Conselho Deliberativo da Beneficência, professor Rivaldo Rodrigues Novaes e o Comendador Vasco de Frias Monteiro, Conselheiro das Comunidades Portuguesas e diretor do Centro Cultural Português, ambos bastante emocionados.
A celebração pela redemocratização de Portugal terminou com a tradicional degustação do Patê de Abril em 3 Tempos, iguaria criada pelo Chef de Cozinha José Nascimento, do HBP, uma referência à senha musical que deflagrou a revolução dos Cravos.
Entre os presentes, representantes de diferentes instituições como Marinha do Brasil, comunidades portuguesas da região e de diferentes outras entidades, desde órgãos públicos, casas culturais, religiosas e esportivas, comerciais, organizações fraternais, clubes de serviço, instituições de saúde (Diretoria da Beneficência Portuguesa, Secretaria de Saúde, Divisão Regional de Saúde e Conselho Regional de Medicina), de ensino, como Escola Portuguesa, Fundação Lusíada, Universidade Santa Cecília e UNAERP, enfim, uma plêiade formada por cerca de uma centena e meia de defensores da democracia. (NFM)
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