Em meio às poesias que distinguiram Martins Fontes, um vídeo inédito da entrevista de Edith Pires Gonçalves Dias, escritora, autora da obra “Vivendo Martins Fontes” fez transbordar de emoção o heráldico Salão Nobre da Beneficência Portuguesa de Santos.
O ano era 2019 e o evento, mais uma edição do ”Café Poético com Martins Fontes” organizado pelo hospital para homenagear o médico e poeta durante a tradicional Semana Martins Fontes realizada em Santos. E lá estava Paulo Eduardo Costa, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente que na ocasião confidenciava ao presidente da Beneficência, Ademir Pestana, o orgulho de participar daquela homenagem.
Nesta semana (17 a 23 de junho), quando Santos reverencia seu poeta maior, Paulo Costa diz lembrar cada detalhe dos encontros programados pela Beneficência para festejar Martins Fontes e cada pormenor daquele vídeo em que a escritora Edith Gonçalves Dias, que teve sua primeira infância marcada pela presença do médico e poeta, detalhava ao cineasta Carlos Oliveira e equipe, essa importante fase de sua vida e a felicidade de ter convivido com uma das pessoas mais generosas que a cidade, quiçá o Estado, quiçá o Brasil, tenha conhecido.
“As pessoas mais inteligentes dizem com muita frequência que a vida cultural existe porque a vida não basta. Acho isso uma grande verdade. Ao nos ligarmos afetivamente as ações do brilhante médico e também, renomado e respeitado poeta e escritor Martins Fontes, nos alinhamos à vida.
A proximidade da Medicina com a Arte é mister que somente os iluminados podem ter e isso nos faz imaginar numa circunstância melhor e pensar num mundo mais amplo e reconhecido socialmente em que as pessoas se entendam em função da arte da cultura, da escrita, da poesia, e mais próximo da Medicina.
Martins Fontes foi uma figura marcante na nossa vida histórica por ser um pioneiro e por se destacar em tudo que se propunha a fazer. Foi um brilhante médico ao mesmo tempo foi um grande poeta. Nós, no Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, temos uma coleção de seus livros, alguns dos quais, edição original do próprio poeta o que muito nos orgulha. E a realização do Café Poético é a forma mais firme e propositiva de unir a arte à vida, exatamente essa vida que é dada no hospital, na Sociedade Portuguesa de Beneficência, tão tradicional da nossa terra e tão importante para todos nós.
Participei com grande orgulho, praticamente de todas as edições em homenagem ao grande poeta. Sinto, em função da pandemia, não podermos nos agregar, nos unir nesse momento tão delicado, mas de uma forma ou de outra nos sentimos honrados em saber que a memória desse grande artista, desse grande médico, desse grande poeta, está sendo mantida e reverenciada na casa que lhe acolheu. Uma honra enorme saber que a gente continua fazendo arte, fazendo cultura, exercendo o poder que temos sobre as pessoas para que elas admirem as coisas mais simples da vida, mas que façam delas grandes troféus.
Martins Fontes realmente é uma grande e positiva referência e os eventos que a Beneficência produz sempre elevando o nome desse vulto que foi um dos baluartes da instituição é muito especial. A todos da Diretoria do Hospital, meu carinhoso cumprimento e a todos os envolvidos na organização do evento, minhas efusivas saudações e cumprimento especial como presidente do Instituto Histórico de São Vicente que também preserva seus vultos e os valoriza com o coração, um abraço carinhoso”.
Paulo Eduardo Costa preferiu não destacar uma poesia do grande poeta deixando a escolha a critério do responsável pelo texto e isso, por uma única razão: não conseguir se sentir à vontade para escolher uma única criação de Martins Fontes como sua preferida. Selecionamos então para o 6º dia do Café Poético, uma das poesias preferidas da escritora Edith Pires Gonçalves Dias, “Minha Mãe” que faz parte do seu livro “Vivendo Martins Fontes”, cuja segunda edição, lançada em 2007, teve o patrocínio da Beneficência Portuguesa.
“Minha Mãe”
Beijo-te a mão, que sobre mim se espalma
Para me abençoar e proteger,
Teu puro amor o coração me acalma;
Provo a doçura do teu bem-querer.
Porque a mão te beijei, a minha palma
Olho, analiso, linha a linha, a ver
Se em mim descubro um traço de tua alma,
Se existe em mim a graça do teu ser.
E o M, gravado sobre a mão aberta,
Pela sua clareza, me desperta
Um grato enlevo, que jamais senti:
Quer dizer – Mãe! Este M tão perfeito,
E, com certeza, em minha mão foi feito
Para, quando eu for bom, pensar em ti.