Diferentes são as formas de lidar com a angústia e na maioria das vezes somente o tempo, considerado senhor da razão, é capaz de amenizar esse sentimento de desolação.
Cada pessoa lida com essa angústia de maneira individual e particular, manifestando seus sentimentos de formas bem distintas e uma delas é a dor no peito seguida da sensação de aperto. Imagine esse desassossego aliado ao estresse provocado pela pandemia da covid-19.
Não resta dúvida que o ano de 2020 foi incrivelmente difícil. Algumas pessoas mais que outras, naturalmente, sofreram e ainda sofrem o impacto desse ano atípico marcado pela pandemia que nos distanciou, nos estressou, nos angustiou.
A protagonista do primeiro “Xô estresse!!!” de 2021, Tânia Lara Alves, a exemplo de inúmeras outras pessoas ao redor do mundo, vem vivenciando como nunca o verdadeiro significado da palavra saudade e sentindo a agonia provocada pela inconformidade da situação. Se o isolamento social e outras situações relacionadas às medidas tomadas para evitar a disseminação da covid-19 já causam estresse, calcule juntar tudo isso ao vazio deixado pelo perecimento de um ente querido.
Segundo a pedagoga Tânia Lara, “parece que foi ontem” que numa manhã de julho iniciava sua jornada de trabalho no setor de Manutenção da Beneficência Portuguesa, “mas lá se vão quase 24 anos de aprendizado a serem completados em julho próximo” diz refletindo sobre esse tempo que segundo ela registra os momentos e ações mais significativos de sua vida.
Para ela, 2020 foi um ano que gostaria de esquecer, especialmente pela dor da perda de sua mãe, que chamada ao Reino do Criador, deixou esse plano terreno (perecimento não teve relação com a covid-19), e pelos traumas causados à humanidade pela pandemia dessa doença que continua preocupando o mundo. Mas, por outro lado, entende que não dá para apagar as marcas do ano anterior que apesar das dores, foi de aprendizado, ainda e por longo tempo, em andamento.
“Orando para entender esse turbilhão”
Tânia diz que ainda vive sob os efeitos dos fatos que impactaram sua vida no ano que findou, e o estresse ampliado pela pandemia em curso, e para aliviar a tensão recorre à oração.
“A Beneficência é parte da minha vida. Nela já vivi metade de minha existência e é nela que tenho no livro da vivência, as páginas mais importantes, que mentalmente releio com frequência para me manter motivada. Trabalhando na Benê a vida me sorriu e nela tive minha primogênita, hoje com 12 anos (tem mais um filho de 4 anos), cuja maternidade (atividade encerrada em 2013) era, para mim, o setor mais lindo de todo o hospital onde o choro, normalmente significava vida, alegria e meu deu oportunidade de conhecer a instituição como paciente, vivendo a mais importante experiência, ser mãe.
Quanto ao impacto da pandemia é muito difícil administrar. Estou ressignificando minha vida, reaprendendo, recomeçando. Com a covid, há 10 meses longe dos familiares, ficamos eu, marido e os filhos isolados dos parentes que residem noutras cidades. Esse isolamento é o mais difícil de administrar, por isso o que mais faço é orar tentando entender esse turbilhão. Orando me aproximo mais de Deus para buscar forças, tentando aprender e fortalecer meus filhos.
Tenho rezado muito e tenho tido proteção, por isso ao invés de dar espaço ao medo e me deixar alcançar pelo estresse, agradeço a vida e ao trabalho na Beneficência, onde mesmo que à distância, fico mais próxima das pessoas. Procurando ver o lado positivo desse turbilhão, quando saio e quando chego em casa, orações em primeiro lugar.
A oração tem me ajudado a viver um dia de cada vez. Viver hoje, o agora o meu melhor, não deixar mais para depois usar aquele sapato novo, o perfume para trabalhar porque é o único lugar que vou desde o início do ano. Não planejo o futuro e isso é algo novo. Estou reaprendendo, amo o agora, família, amigos, as coisas importantes.
Nessa fase descobri que começo a gostar de cozinhar. Nunca liguei para isso, agora mais frequentemente, após uma pesquisa acabei aprendendo a dominar o fogão e as receitas. Nunca tinha feito um feijão, panela de pressão nem pensar, minha mãe dizia que era perigosa. Ela faleceu e tive que cozinhar, e foi difícil porque por conta da proteção que ela me dava desconhecia essa área. Eu não virei uma master chef, mas estou dando conta e parece que tenho me saído bem, e isso faz parte do meu reaprendizado.
A pandemia junto com os acontecimentos me marcaram profundamente por não ter vivenciado perdas tão inimaginavelmente doloridas e isso me força a reaprender. Se não tirar lição de tudo isso, não vale a pena continuar. Como tenho o melhor que Deus pode nos dar, família e saúde, além de disposição para o trabalho me esforço para reaprender o que posso ter esquecido e aprender o que não tive oportunidade de conhecer.
Agora entendo que tudo tem um porquê por isso, creio que minhas orações tem mais força que antes quando rezava por força do hábito. Hoje tento me comunicar com Deus seguindo os apelos de meu coração e, é diferente. Não peço nada a Ele, apenas agradeço o que tenho, o que somos e que seja feita a Sua vontade. Não peço mais pois me dei conta que tenho os bens mais valiosos e quando o estresse tenta me alcançar, rezo e mentalizo o quanto sou agraciada.
Com essa situação de perda, meu marido e eu nos aproximamos muito mais. Estamos valorizando mais a família, a união e a cumplicidade, inclusive nas situações mais básicas
Meu marido, devido ao falecimento da minha mãe e com o advento da pandemia pediu demissão do emprego para cuidar dos nossos filhos que estão em casa (aulas suspensas). Agradeço a Deus por tê-lo junto enfrentando esse momento difícil que não sabemos quando vai melhorar.
O hábito de agradecer mais que pedir foi um ensinamento de minha mãe que só agora estou exercitando. Descobri que as lições que a vida nos ensina preenchem todas as páginas de nossa existência e elas só viram (mudam) na hora certa e quando o Grande Mestre entende ser o momento. A oração tem sido um conforto muito grande para eu me recuperar. Tenho aprendido que orar e agradecer nos faz acordar para a vida e quando isso acontece não existe estresse e eu tenho certeza que vou chegar nessa página”.
(Tânia começou no Serviço de Manutenção que à época incluía Patrimônio, depois coordenou o Núcleo Infantil Santo Antônio, desativado no ano passado, sendo remanejada para o setor de Gestão de Qualidade do qual já tem experiência quando da montagem do programa ISO 9000. Atualmente dá suporte no Serviço de Manutenção de Equipamento/Predial onde tudo começou)
2 Comments
Fique emocionada com o relato da Tânia, pois infelizmente já passei por uma dessas páginas d o livro da vida. Mas fiquei inspirada pela forma que ela encontrou para se reencontrar e avançar, galgando degraus da existência focando no fortalecimento da família.
Uma pessoa super forte e admirável. Cada dia que passa é um degrau de superação e entendimento e muito aprendizado, uns que vem se aliando aos que teve ja até aqui e outros que já foram vistos e que agora são colocados em prática. Parabéns por toda jornada e por ter atravessado um ano difícil com sabedoria e extraíndo o melhor para seguir adiante.