“Sonho que se sonha só
É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto é realidade”
Raul Seixas
O que a frase do compositor baiano Raul Seixas (1945-1989) tem a ver com a protagonista do Xô estresse!!! desta sexta-feira (11 de dezembro)?
Muito mais do que se imagina. Muito mais até do que ela mesma possa imaginar. Nem mesmo quando a cantoria sob a janela a despertou naquela manhã chamando-a à realidade, se deu conta que seu sonho sonhado junto com a grande família vai se tornando realidade. É só uma questão de tempo.
E o estresse provocado pelo turbilhão de emoções devido a pandemia da covid-19? Sumiu!
Pense em uma pessoa preocupada com a família. Uma grande família.
Agora pense essa pessoa afastada da maior parte dos membros da grande família em meio ao turbilhão de emoções provocadas pela pandemia da covid-19.
Pense um pouco mais, essa pessoa que como qualquer outra tem sonhos, mas diferentemente de muitas outras, não se lamenta por não ter o grande sonho realizado … ainda… (o amanhã só a Deus pertence) e continua sonhando, de preferência no coletivo por que entende que o sonho que se sonha sozinho é só um sonho, mas quando se sonha junto é realidade.
Estamos falando da Josilene Chaves Monteiro, a Jô Monteiro, Técnica de Enfermagem, atualmente no setor de Auditoria da Beneficência Portuguesa. No hospital, a Jô deu continuidade ao sonho de garota de trabalhar em um local onde pudesse não apenas exercer uma função, mas confortar as pessoas. Aliado a esse, outros sonhos pessoais e aqueles que se sonha junto continuam acontecendo, naturalmente.
Seu primeiro emprego na área hospitalar foi em outro hospital da cidade, onde após um tempo como copeira foi transferida para o consultório ginecológico onde arrumava a ficha das pacientes e acompanhava os médicos durante as consultas. O maior contato com pacientes era bom dia, boa tarde e entregar a ficha (prontuário) ao médico. Foi um período de grande aprendizado; observava a organização do setor, do posicionamento da paciente na maca ao preparo da bandeja do material usado pelos médicos. Foi gostando, e incentivada por algumas pessoas, decidiu fazer o curso de Técnica em Enfermagem.
Ao concluir o estudo encaminhou currículo para todos os hospitais. Na Beneficência entregou nas mãos do porteiro de quem lembra o nome, “Seu Severino”. Ao chegar em casa pensou: “Não deveria ter deixado com o porteiro. Será que ele vai entregar na Administração?”. Quase dois meses depois foi chamada e fez prova em agosto de 2004, quando o hospital completava 145 anos e logo foi admitida.
“Cantoria na janela me chamou à realidade”
“Na entrevista com a então chefe de Enfermagem disse a ela que não tinha experiência, mas tinha muita força de vontade, queria aprender e me tornar uma profissional. Fui encaminhada para o térreo C, ala (internação) que até hoje, amo de paixão pois foi lá que minha verdadeira vocação aflorou. Vi que tinha habilidade para trabalhar com idosos, o setor tinha muitos e lá fiquei por 8 anos. Um dia, durante o trabalho, machuquei a coluna; muita dor, mas consegui concluir o plantão e fui para o Pronto Socorro; o neurologista queria me afastar, insisti muito, quase chorei, então fez uma carta recomendando mudança de setor.
Fui encaminhada para a Auditoria. Confesso que não gostava de trabalhar com papel, mas não estava em condição de escolher e recebi da chefia do setor muito incentivo, mais que isso, ensinamento. Hoje sou apaixonada pela auditoria onde estou há 8 anos e me sinto feliz porque sei que o setor é como todas as peças da engrenagem do hospital, importante para o seu bom funcionamento.
E chegamos ao ano de 2020 e com ele a pandemia da covid-19, dando uma chacoalhada, uma bagunçada na nossa vida. Acho que a covid mudou o nosso comportamento, a forma de demonstrar a camaradagem com os colegas, sem abraços, todos à distância. Até minha ida habitual ao Térreo C para matar saudades do setor, teve que ser alterada.
A pandemia me deixou muito preocupada, porém, muito mais atenta redobrando os cuidados e mesmo assim, em setembro passado tive covid. Não precisei ser hospitalizada, fiquei em isolamento em casa e tive muito medo pelo meu bem mais precioso, minha família (cinco irmãos, nove sobrinhos) e em especial minha mãe, meu bem maior, que tem 67 anos e é diabética. Embora tenha pedido para que ela fosse para a casa de uma das minhas irmãs, ela se recusou a me deixar sozinha e resolveu que iria cuidar de mim. Me tranquei no quarto. Tive muita dor nas costas, perdi o paladar, um mal estar terrível. Sarei e ao retornar ao trabalho, muita alegria. Ao sair de casa para o hospital, diariamente minha mãe recomenda: filha tenha cuidado, e eu explico que sinto mais segurança dentro do hospital que em qualquer outro lugar, porque seguimos rígidos protocolos e estamos distanciados dos colegas que trabalham na linha de frente do combate à covid-19”.
O que faz para desestressar?
“Ultimamente tudo é muito tenso, afinal todos nós, independentemente da pandemia temos nossos medos. Mas, quando estou em casa e tenho notícia da família (os cinco irmãos estão casados e vivem em suas casas, um deles no exterior), tudo se acalma. No auge da pandemia ficava tensa pois não sabia como eles estavam se comportando. Ainda com a necessidade do distanciamento, não nos vemos diariamente como antes, então procuro saber de todos, dos irmãos aos sobrinhos e só depois me acalmo e esqueço o estresse. Também me acalmo com louvores.
Desde cedo acalentava o sonho de a exemplo de minha mãe, ter uma grande família. Não importa a forma, mas esse meu sonho se tornou realidade quando passou a ser sonhado com toda a família. Vivo a realização desse sonho através dos meus sobrinhos de cujas vidas participo desde o início pois acompanhei a gravidez de cada uma das irmãs e da cunhada, bem como acompanho o crescimento e educação de cada um deles. Hoje, meu sonho é continuar acompanhando o crescimento e desenvoltura dessa turma. Quero ver meus sobrinhos formados e felizes.
A pandemia interrompeu nossos hábitos, mas não nossos sonhos. O café da manhã aos sábados reunindo a grande família continua suspenso, mas nós continuamos sonhando com um mundo melhor”.
Recentemente, Jô foi despertada de suas reflexões por uma cantoria debaixo de sua janela. De pronto, não reconhecendo as vozes, abriu a janela para questionar os autores da ‘algazarra’, quando foi surpreendia por uma cena que jamais se apagará de sua mente: irmãs, cunhados e sobrinhos com bolo, cartazes, flores e presentes. Era seu aniversário.
E, alimentando a esperança de realizações Jô, fotografada em um dos jardins internos seu “cantinho” preferido na Beneficência, conclui:
“Sou grata a Deus por cada um dos meus tesouros através dos quais me realizo. Estou realizada. A cantoria debaixo da minha janela me chamou à realidade e me pergunto: quem pode resistir a uma família como essa? Eu mesma respondo: ninguém, nem o estresse”.
3 Comments
Que linda…uma pessoa de um coração enorme…gosto muito dessa moça…bjs e continuo sempre desse jeitinho.
Jô é uma pessoa maravilhosa e eu que sou do faturamento sou grata, por cada vez em que ela me ouviu, ela é como uma irmã para mim.
E ela esqueceu de falar de seus dotes no artesanato e seus mimos , que nos presenteia com canetas em flores, seus chaveiros de crochê e seu bolo de cenoura maravilhoso.
Jô é uma benção de Deus .
Jo você tem um coração enorme, educação nota mil, paz de espírito e um sorriso lindo..
Você é uma pessoa incrível.