A expressão “se a vida me der um limão faço uma limonada” cai como uma luva para Elivânia Maria dos Santos, ajudante de serviços gerais no setor de Nutrição e Dietética da Beneficência Portuguesa.
Dona de um sorriso cativante e de um bom humor contagiante, Elivânia ou Vânia, como é chamada pelos colegas de trabalho, é dessas pessoas que não se deixam abalar pelos senões que a caminhada por vezes apresenta.
Com bom humor encara os desafios, mas não tem como negar que a pandemia a tirou do eixo e que é preciso um grande esforço para se manter focada no trabalho, afinal há seis meses, sua vida virou do avesso. Com a rotina totalmente alterada, impossível não ficar estressada, mas como diz Vânia, vida que segue.
No Serviço de Nutrição e Dietética da Beneficência há 8 anos, se emociona ao falar de sua paixão pela gastronomia, pela satisfação na realização de seu trabalho no setor, de ter conhecido o marido no hospital (trabalha noutro setor) e do *sonho em se profissionalizar na culinária. Apesar da máscara, o sorriso visível pelo brilho e expressão dos olhos, diminui de intensidade quando fala que o sonho de estudar tem sido adiado, mas não descartado. Isso a preocupa? Sim, mas no momento sua maior preocupação, seu estresse tem como causa a pandemia.
E o que Elivânia ou Vânia, essa junqueirense (natural da cidade de Junqueiro, Alagoas) que está em Santos há 21 anos e que considera a Beneficência Portuguesa como sua segunda, casa faz para desestressar?
“Solto a voz, canto e grito gospel”
“A mulher que trabalha fora e tem filhos, dificilmente consegue relaxar quando chega em casa, principalmente se tiver crianças como eu que tenho uma bebê de 4 anos e uma pré-adolescente. Elas, cada uma a seu modo querem atenção, brincar, conversar, mas os afazeres domésticos me esperam e mesmo com ajuda, tomam tempo e exigem disposição.
Antes da pandemia saíamos de casa para o trabalho juntos com as crianças, uma para a creche e outra para o colégio. Agora é tudo muito tenso, tivemos que nos adaptar porque as escolas estão fechadas por conta da pandemia.
Quando chego na Beneficência e entro no Serviço de Nutrição, foco no trabalho porque não podemos passar para as pessoas, nossos problemas. Boto um sorriso no rosto e o bom humor volta imediatamente. E não pode ser diferente porque adoro trabalhar na Nutrição, acompanhar a transformação dos alimentos, colaborar na elaboração das saladas, dos sucos, dos lanches é muito prazeroso.
Enquanto estou na Beneficência não me dou tempo para pensar na pandemia, por isso não sinto o estresse, porque no hospital a gente não vê o tempo passar. Eu não sei explicar o que sinto, mas gosto muito de estar na Benê que considero minha segunda casa, gosto de ver e estar com as pessoas. Sinto como se estivesse em família.
Mas quando acaba o expediente o estresse vem à tona.
E as crianças, será que seguiram as orientações? E nossos parentes, como estão? Será que tenho que passar no mercado? Aí, aquele medo de ser contaminada e de contaminar minhas filhas volta a atormentar. Não tem como não travar.
Chego em casa e outra jornada me espera, então não me resta outra alternativa a não ser destravar a mente e entrar no pique das crianças. Brincar, brincar e conversar muito. Eu canso, elas não, mas paro porque o fogão me espera e cozinhar me acalma, o pior é que comer também me acalma, mas tem suas consequências, por isso ouvir música gospel e soltar a voz, cantar, na realidade **gritar me desestressa. Canto com minhas cantoras gospel preferidas. Claro que canto mais alto que elas enquanto cozinho. Pronto. Desestressei”.
*O sonho de Elivânia é fazer Gastronomia. Curso superior? “Um sonho mais além, mas ficaria muito feliz com o curso Técnico em Nutrição e Dietética. Seria o começo, mas por enquanto está apenas no sonho’.
À Vânia, oferecemos a você, com convicção, a estrofe de uma canção totalmente distanciada do cancioneiro gospel, “Prelúdio” do cantor e compositor, frequentemente considerado um dos pioneiros do rock brasileiro, Raul Seixas (1945/1989)
“Sonho que se sonha só
É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto é realidade”
Elivânia ou Vânia, seu sonho agora é meu, é nosso também.
** E os vizinhos? Será que gritam, ou melhor, cantam juntos com Elivânia?