Uma pesquisa realizada pela *Gênero e Número em parceria com a Sempreviva Organização Feminista (SOF), apontou que uma maioria absoluta das mulheres entrevistadas teve aumento da demanda de preparar ou servir alimentos (80,5%), lavar louça (81%), limpar a casa (81%). Sem definir percentuais, a mesma pesquisa registrou aumento em várias outras tarefas ressaltando que durante a pandemia, as mulheres estão mais sobrecarregadas que os homens, especialmente no tocante a finanças, vida profissional e cuidados com a casa e com a família.
Some-se a isso, acompanhar as atividades escolares dos filhos e cumprir as atividades do trabalho remunerado, seja ele remoto ou presencial.
Diante desses dados, desnecessário perguntar à protagonista do Xô estresse!!! desta quinta-feira (10), a enfermeira Luciana Suguiyama Veras, do Departamento de Enfermagem da Beneficência Portuguesa, se a pandemia a deixa estressada, porque sua rotina é semelhante ao da esmagadora maioria das mulheres no mundo, com o agravante de ser uma profissional da Saúde em plena atividade.
Mas, ignorando tudo isso arriscamos a indagação, somente para termos abertura para a pergunta seguinte que é a chave da série ‘Xô estresse’, ou seja, o que Luciana faz para desestressar.
“Em busca da terapia que caiba no meu tempo”
Segundo colegas de trabalho, Luciana Veras, enfermeira com especialização em Dermatologia e Auditoria, não consegue ficar parada. Destacada como ótima líder, além de possuir o perfil multitarefa é apontada como excelente exemplo do que é trabalhar em equipe.
Desenvolver várias tarefas ao mesmo tempo, a exemplo de inúmeras outras mulheres, para ela, esposa, mãe, dona de casa, profissional da área da Saúde, nunca foi algo fora do normal, até que há seis meses, a organização mundial da Saúde (OMS) elevou o estado da contaminação à pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2).
Surpreendemos Luciana questionando-a sobre o estresse e o que faz para desestressar na pandemia. Como assim? Perguntou…
E de repente, a enfermeira conhecida pelo eterno sorriso no rosto e parafraseando a escritora Raquel Magno, posso dizer que, com jeito de menina travessa, que por onde passa esbanja carisma e espalha alegria, parou de repente.
“Oi??? Estou bastante estressada, mas mantenho a compostura porque com pandemia ou não, a vida continua e na minha profissão precisamos manter o equilíbrio para cuidar de quem precisa, mas posso garantir que não está fácil.
Não é novidade à mulher desenvolver várias atividades, mas na pandemia há uma sobrecarga muito grande, Tem que dar conta dos filhos que estão dentro de casa com aulas à distância e todas as atividades de uma casa que envolve desde preparar as refeições à lavar louça, passando por uma interminável lista de tarefas. Depois de tudo isso, botar um sorriso no rosto e ir para o trabalho. A mulher na pandemia só evidencia que é muitas numa só.
O que mudou na minha vida? Tudo. A preocupação sempre foi proteger a família, mas meu marido e minha sogra contraíram a covid-19 e o que já estava difícil ficou um pouco mais. Como não dá para fechar os olhos e esperar a tempestade passar, tivemos que encarar. Minha sogra internada por vários dias, meu marido em quarentena na residência dela, meu sogro veio para minha casa e passou a cuidar dos meus filhos de 2 e 9 anos enquanto saia para trabalhar”.
Nesse período para Luciana, descansar só quando dormia ou melhor desmaiava. Quando o marido foi diagnosticado como curado da infecção, a enfermeira diminuiu o ritmo e tomou algumas decisões importantes além de ter feito valiosas descobertas.
“Percebi que independentemente das múltiplas tarefas precisava me cuidar para evitar adoecer e isso envolvia alimentação, ou seja, dar adeus ao pastelzinho ou lanchinho na hora do almoço. Precisava me fortalecer. Deu certo. Com meu marido em casa voltei a dormir cedo enquanto ele fica com as crianças. Dividir as tarefas da casa foi muito bom, mas dividir o acompanhamento das tarefas da Escola (o filho mais velho está no 3ֻº ano do Ensino Fundamental), melhor ainda, porque descobrir que estou tentando reaprender. Até o ensino da tabuada é diferente. Isso dá o maior estresse, porque vem o medo de orientar errado.
Em meio a correria a gente esquece do que é rotina e foi assim que depois de 5 anos de uso contínuo de descongestionante nasal (para reniti), encontrei 3 vidros do medicamento intactos. Me dei conta que não mais preciso continuar aquela rotina.
O que faço para desestressar? Bem, antes eu achava que o fato de sair de casa para o trabalho já era um alívio para o estresse, mas quando acordei para a necessidade de me cuidar e sobre o que podemos aprender com a pandemia para que possamos sair dela, no mínimo, como seres humanos melhores, decidi buscar apoio e para isso recorri a uma grande amiga, também enfermeira, que me acompanha na corrida diária após o trabalho. Retomar esse hábito, com certeza é terapia para o desestressar que cabe dentro do meu tempo”
*Gênero e Número – produção jornalística, apartidária, que visa dar visibilidade a dados e a evidências relevantes para o debate sobre equidade de gênero.