É sabido que a vocação é formada por dois elementos: a aptidão que uma pessoa tem para fazer determinada coisa e o interesse que ela sente por aquilo. Segundo estudos, interesse vem de fora, ou seja, é influenciado pelas experiências individuais e pelo ambiente que cerca o indivíduo. Por outro lado, a aptidão ou capacidade natural de uma pessoa para executar uma determinada função.
Muitas pessoas buscam orientação bem como a realização de testes vocacionais na busca de orientações sobre a vocação profissional. Mas e aquela pessoa que nasceu para a profissão, para a qual sem pestanejar se preparou e abraçou? Pois é com uma dessas pessoas que conversaremos hoje, sobre a terapia adotada para desestressar nesses tempos de pandemia.
Estamos falando de Joseane de Souza Aranha Silva, coordenadora de Enfermagem da CTI Cardiológica e da CTI III, que no auge da covid-19, doença infecciosa que mergulhou o mundo nessa pandemia, precisou se afastar de seus entes queridos para evitar maiores riscos de contaminação.
“Andar de bicicleta reduz estresse”
Discreta, compenetrada, a enfermeira Joseane é uma daquelas pessoas apontadas como “nascida para a profissão que exerce”. Ela não precisou se submeter a teste vocacional para saber que seria uma profissional de Enfermagem. Sempre soube, mas nunca imaginou viver momentos tão difíceis como os provocados pela covid-19. Integrando uma das equipes multidisciplinares de atendimento em CTI específica para pacientes com covid, Joseane diz que o estresse, infelizmente é inevitável.
Quando se está no meio do furacão provocado pela doença que além de maltratar física e psicologicamente, machuca suas vítimas de forma cruel afastando-as das pessoas que lhes são mais queridas, os profissionais da saúde se desdobram não apenas para socorrer os pacientes, mas também para se manterem fortes para suportar o distanciamento da própria família.
“Estamos vivendo as dores provocadas pela covid-19, doença cruel, cujo maior impacto para mim, foi na fase inicial quando o medo estava estampado no rosto das pessoas. No começo da pandemia muito medo, estávamos aprendendo a lidar com uma doença desconhecida. Medo do desconhecido, medo do desespero provocado pelo isolamento dos familiares, medo de contaminar os parentes.
O impacto é muito grande. Cuidar de pacientes com covid exige muito, pois somos as únicas pessoas que eles têm ao lado. Nos tornamos seus parentes, a pessoa mais próxima. Se coloque no lugar deles, sozinhos, na fase aguda da doença, sem um telefonema sequer. Sozinhos com sua dor esses pacientes só tinham a nós profissionais da saúde. Com o passar dos dias, semanas, meses, nos tornamos mais experientes, daí o uso de um celular possibilitando ouvir a voz de um parente. Depois, o uso do tablete, uma vídeochamada, um sorriso e o fortalecimento. Simples, mas significativas ações que dão uma revigorada incrível no ânimo de todos envolvidos no tratamento.
O sorriso de um paciente é revigorante para todos os profissionais. Posso garantir que vivemos momentos desesperadores e isso mexeu muito com a nossa cabeça. Estou há 4 meses longe de minha mãe, porque devido a idade, ela faz parte do grupo de risco. Passada a fase mais aguda da doença, uma vez por semana vou vê-la. Mesmo sem muita aproximação é muito bom encontra-la saudável. É uma separação dolorida, mas necessária”.
Joseane lembra que no início da pandemia vestia uma máscara de durona, demonstrando tranquilidade, confiança para com os pacientes e para com os colegas.
“Tentava sorrir sempre, mas a tristeza era enorme por que eu mesma estava vivendo minha solidão e meus temores, mas tinha, como tenho, muita fé em Deus que em breve, teremos uma vacina, para que possamos vencer essa doença, embora saibamos que muito mais gente ainda será infectada. Eu já fui contaminada pela covid, felizmente de forma branda e credito isso ao rígido controle estabelecido pela Beneficência, com relação aos seus colaboradores e a tudo que diz respeito ao hospital.
O estresse provocado pela pandemia é muito forte e para me livrar dele, assisto séries na TV, principalmente sobre a área médica. Com a redução dos casos de internação, caminhar na praia, tomar água de coco e admirar a brisa me ajudam a desestressar, mas é andando de bicicleta, pelo menos três vezes por semana que a minha terapia se completa. Mas quando isso passar, na primeira oportunidade arrumo as malas e com minha mãe, embarco para o Nordeste, região brasileira que ela tanto gosta. Aí dou adeus ao estresse e de preferência já com notícia definitiva sobre uma vacina contra a covid-19”.