A Beneficência Portuguesa é composta por vários setores, todos considerados essenciais ao bom funcionamento, embora em primeiro momento se sobressaem os mais ligados diretamente à saúde. No entanto, todos abrigam profissionais que prestam de forma direta ou indireta, atendimento aos pacientes. O setor de costura, um dos braços da hotelaria hospitalar, por exemplo, é fundamental como área de apoio.
Sem a confecção e os ajustes realizados pelas costureiras, dificilmente um hospital consegue suprir as necessidades dos colaboradores e pacientes e manter o padrão de qualidade dos serviços prestados. No hospital, estas profissionais não estão preocupadas com tendências da moda. Elas têm outras prioridades, costurar enxoval hospitalar composto de várias peças, de lençóis para leitos comuns e cirúrgicos, macacões, capotes às máscaras, entre outras peças. Mas, atenção, mesmo sabendo que a peça confeccionada não será usada em um desfile de modas, capricho e dedicação fazem parte do trabalho dessa equipe que também trabalha para proporcionar conforto e segurança a quem faz uso das peças produzidas.
Guimar Viana Pereira, líder do Setor de Costura do Serviço de Hotelaria da Beneficência Portuguesa, uma paulistana que aprendeu o ofício, ainda criança, aos 10 anos, diz que costurar para um hospital é fazer parte de um grupo especial de profissionais cujo objetivo é proporcionar o melhor atendimento visando a recuperação dos pacientes.
E o estresse nessa pandemia, quando recentemente o setor, em determinado momento entrou em produção acelerada para suprir a grande demanda devido aos setores para atendimento específico a pacientes suspeitos ou com a covid-19 afetou Guimar? E se isso aconteceu o que ela está fazendo para desestressar?
“Costuro, customizo e faço doação”
Para Guimar Viana, a habilidade com tecidos, linhas e máquinas não fazem parte da profissão, mas de sua vida, afinal seu primeiro emprego em uma fábrica de costura foi aos 14 anos, forrando botões até criar calos nas mãos o que não a impedia de sonhar em assumir uma daquelas máquinas de costura, principalmente a de overloque. Aos 17 anos realizou o sonho trabalhando em confecções como a DeMillus. Casou, mudou para Santos que hoje considera sua cidade e por acaso, quando acompanhava um dos filhos a uma agência de emprego se deparou com o anúncio:
“PRECISA-SE DE COSTUREIRA COM PRÁTICA – INTERESSADA COMPARECER AO HOSPITAL BENEFICÊNCIA PORTUGUESA”
Ela não teve dúvidas. No dia seguinte se apresentou no hospital onde ela e 18 outras candidatas foram avisadas que eram apenas duas vagas. Fez teste (costurou um capote cirúrgico). Foi selecionada e a há 23 anos e um mês, se diz abençoada e feliz por fazer parte da “Família Benê”.
“Estresse? Quem não tem? Principalmente nessa pandemia que virou nossa vida do avesso. Eu procuro aliviar esse tal estresses fazendo, nos fins de semana, longas caminhadas pela orla da praia passando por vários bairros santistas até a Praia dos Milionários em São Vicente.
Leio bastante, baixo livros no computador e no celular. Às vezes, concentrada na leitura, me desligo do mundo e da panela no fogo, voltando à realidade com a comida queimada. Essas duas coisas me distraem, mas o que me desestressa de verdade é costurar, costurar, customizar peças e depois doar para quem precisa.
Aproveito qualquer pedaço de pano ou peça de vestuário para fazer roupa de cama; de uma calça comprida faço bermuda ou saia. Costurando em casa à noite ou no final de semana, pensando que alguém vai pode usar aquela roupa, esqueço totalmente do estresse. Como a gente nunca sabe, quem ou quando baterão à nossa porta a procura de uma coberta para se amparar do frio, tenho sempre, roupas guardadas feitas especialmente para socorrer essas pessoas”.
Guimar, que junto às colegas do Setor de Costura da Beneficência, no auge da pandemia da covid-19, chegou a costurar mais de 420 capotes cirúrgicos por dia e perdeu as contas com relação a confecção de máscaras, encerra seu depoimento perguntando:
“Acha que o estresse pode resistir quando a gente para se livrar dele faz o que mais gosta, o que lhe dá sentido à vida”? E ela mesmo responde: “Não!”