Segundo a psiquiatra paulista Alexandrina Meleiro, o estresse é essencial para a sobrevivência, mas é preciso aprender a administrá-lo para evitar consequências danosas ao organismo.
É difícil imaginar uma pessoa em estresse constante e com a saúde em dia, principalmente se integrar o universo de profissões de maior impacto de exaustão física e emocional, como a Medicina. Mas elas existem e nessa pandemia encontramos uma delas, bem ao nosso lado, o intensivista e cardiologista Alberto Bedulatti Cardoso, médico da Beneficência Portuguesa e da Prefeitura de São Vicente, e professor da Faculdade de Medicina da Fundação Lusíada.
Ao que tudo indica, mesmo que inconscientemente, há 38 anos, Dr. Bedulatti fez um pacto com estresse, porque desde a residência médica eles convivem muito bem.
Estranho? Sim, é invulgar essa parceria, mas ela se mantém mesmo diante dos impactos provocados no mundo pela pandemia da covid-19.
“Sem mandracaria sigo minha rotina”
Uma surpresa de ambas as partes: a do médico, ao ser questionado sobre o que faz para desestressar em meio a pandemia e a nossa diante da resposta. Ele ficou admirado e nós, abismados.
Dr. Bedulatti ficou epantado com a pergunta por que segundo ele, não fica estressado, ou quem sabe, vive nessa inquietação há tanto tempo que de tão acostumado, nem se importa com ela. É como se ela não existisse. Resumindo, convivem em harmonia. Afinal, segundo ele, ninguém fica estressado de um dia para o outro
“Eu? Desestressar? Não faço nada. Não me estresso, por isso não faço nada contra ele (estresse). Acho que aprendi a administrar esse estado de tensão, lá atrás, durante a residência médica em 1981. Aí foi realmente estressante, um novato intensivista em UTI. Depois, aquela agitação, preocupação, atenção… tudo foi incorporado porque o estresse faz parte da realidade da profissão.
Vivenciamos surtos e outras pandemias como H1N1 (gripe suína), AIDS, chicungunha, meningite, dengue, ebola, cólera e outras, mas nada tão impactante quanto a covid-19 por conta do seu potencial de contaminação maior que as outras. Por essa razão, dentro da minha rotina que adotei há anos, estou tendo o máximo de rigor nos cuidados com relação às medidas preventivas. Não entramos em casa com a roupa que estava na rua, tiramos os sapatos, etc… Já tinha essa prática, a de deixar do lado de fora tudo que uso no trabalho, ambientes potencializados a possibilidade de contaminação. Esses ambientes tem desenvolvido ações objetivando a maior segurança possível às pessoas, mas nós temos que fazer a nossa parte.
Conheci as mudanças que essas doenças provocaram quando do seu apogeu e não mudei minha rotina, pois o estresse faz parte do meu dia, então, já está incorporado ao que faço. Embora tenha diminuído o fluxo no atendimento a pacientes, seja no hospital ou no consultório, e as aulas na Faculdade estejam sendo realizadas online, a vida segue seu curso.
Devido a pandemia, algumas pessoas com medo, preocupadas com a possibilidade de contaminação, apesar do atendimento a pacientes da Covid-19 ser totalmente separado dos demais setores, retardam o retorno ou postergam a consulta, sendo que que alguns até esquecem que tratamento não pode ser interrompido.
Não faço nada para desestressar por que não me estresso. Afinal o estresse faz parte do meu dia a dia e para conviver bem com ele não tem mandracaria (mágica). Aprendi a administrá-lo. Apenas sigo minha rotina e redobro as medidas de segurança”.
Dr. Bedulatti não nega o estresse, uma vez que diz administrá-lo, mas se diz desestressado por não deixar que tome as rédeas do seu dia a dia.