Os altos níveis de estresse que atingem religiosos surpreendem pesquisadores que a exemplo da grande maioria imaginam que o sacerdócio reúna apenas pessoas que desfrutam de eterna paz interior.
Ledo engano. Padre João Edênio Reis Valle, da Equipe do ITA (Instituto Terapêutico Acolher), especializado no atendimento a pessoas de vida religiosa católica, afirma “Como todo e qualquer mortal, religiosos se sentem estressados e podem chegar à beira da exaustão burnout”.
Como a pandemia também mexeu com a rotina dos religiosos, procuramos saber com o Padre Gilson Aparecido Prates, capelão da Beneficência Portuguesa, qual a terapia que ele adota para afastar o estresse que também acreditávamos não fazer parte do dia a dia dos reverendos.
Não bastasse todo o contexto envolvendo a participação junto aos fiéis e a quem mais o procure, no seu processo de formação, o sacerdote tem que cursar, no mínimo duas graduações, Filosofia e Teologia. No caso do Padre Gilson, além dessas duas, cursou Auxiliar de Enfermagem, pós-graduação em Bioética e Pastoral da Saúde. Atualmente, cursa Psicologia na Universidade Católica de Santos. Como ele bem diz, tudo isso pode gerar estresse se não for muito bem gerenciado.
Rotina, leitura e chá
De personalidade metódica, Padre Gilson parece seguir a rigorosa rotina que o filósofo prussiano *Immanuel Kant (1724 – 1804) cumpria fielmente. Ele tinha horário certo para dormir, acordar, comer, estudar, escrever e fazer suas caminhadas.
Mineiro de São Sebastião do Paraíso, Padre Gilson que completa 9 anos de sacerdócio em agosto próximo, chegou a Santos há 3 anos para a Paróquia Santa Cruz dos Navegantes, responsável pela Capela Santo Antônio na Beneficência Portuguesa.
Morando na roça, aos 17 anos já se destacava como marceneiro, assim como o pai e os irmãos e logo realizava o sonho de ter o próprio negócio. Com o sonho realizado a vida começou a ficar vazia, quando a ideia (que volta e meia despontava) de ir para o seminário aflorou. Foi para o Seminário na cidade de Monte Santo de Minas, em cuja igreja principal a imagem de Cristo apontando para quem entra, tem no pedestal, a frase: “Eu preciso de você”. E Gilson disse SIM!!!
“Ao contrário do que muitos pensam, a vida de um sacerdote não se resume a rezar e meditar, pode ser bem estressante, pois a grande maioria das pessoas que nos procuram, estão vivenciando momentos de sofrimento, perda, angústia e sempre procura na pessoa do padre, um conselheiro, pai, pastor etc…
Para lidar com as minhas obrigações e ter uma vida agradável, que faça sentido, primeiro, tenho hábitos simples, gosto de ter tudo estruturado, ter uma rotina, me preparar para os acontecimentos, tanto diário como a longo prazo; segundo, gosto bastante de ler sobre psicologia, filosofia e religião e enquanto o faço, gosto de tomar chá. Eu ocupo a mente, simples assim.
A rotina ou a previsibilidade me ajuda a não ser pego de surpresa nalgumas situações. É o momento em que minhas emoções e sentimentos vão se acertando e assentando dentro do meu eu psíquico. Com esses simples hábitos consigo conduzir minha vida de uma maneira agradável sem me expor a momentos de estresses ou de explosão desnecessária”. Essa é a receita de vida sem estresse do sacerdote.
Ansioso por voltar às missas presenciais, Padre Gilson diz que sempre viveu na simplicidade e nunca foi infeliz, mas tem a consciência de que não troca a vida de hoje por nada, pois entende que no sacerdócio sua felicidade é completa. “Quando exerço o ministério sou muito feliz”.
E com relação a pandemia da covid-19, como religioso orienta as pessoas para que busquem os meios que a ciência propicia e confiem em Deus acima de tudo, pois como disse o Papa Francisco, tudo será diferente. “Das grandes provas da humanidade, e entre eles a pandemia, se sai melhor ou pior. Não se sai da mesma forma”
* Vizinhos do filósofo, acertavam seus relógios quando ele passava pela rua.