É incrível observar a capacidade do ser humano em se adaptar às diferentes situações que a vida reserva a cada um. Até dormir em pé.
Dormir em uma posição confortável e em um lugar adequado é o desejo de todos, principalmente porque o sono, segundo cientistas, é responsável não só para reparar o cansaço do corpo, mas também para ajudar na organização das atividades neuronais. Mas, há uma corrente de especialistas que entende o sono reparador como privilégio de poucos.
Em tempos de pandemia para quem trabalha na linha de frente do combate ao novo coronavírus, sono reparador é coisa rara. Que o diga o intensivista e anestesiologista Sandro Rogério Dainez, vice-Diretor Clínico e um dos coordenadores de UTI da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos.
O bom humor e a descontração sempre fizeram parte do dia a dia do médico que acreditava quase impossível ter a vida mais agitada em termos de trabalho. Mas a pandemia da covid-19 chegou e ele se deu conta que precisava que seu dia tivesse mais de 24 horas. Parafraseando o filósofo Jacques Derrida, uma impossível possibilidade.
Sem tempo para o estresse, durmo em pé
“Ultimamente não tenho muita opção para me livrar do estresse. Não dá nem para pensar no que posso fazer além das poucas tentativas de me exercitar em casa praticando meu esporte favorito, o Jiujitsu. Quando há possibilidade procuro me distrair assistindo a um filme e lendo um livro sobre minha profissão, para me atualiza sempre, mas a concentração é difícil porque quando estou em casa fico atento ao celular ou cochilando. Costumo dormir fácil quando não estou trabalhando porque acordo muito cedo, por volta das 4h30”.
Como conheço os benefícios do Jiujitsu não só para o físico, mas para a mente, porque é um esporte de defesa e de raciocínio, portanto exige muito do pensamento, determinação e foco e com isso libera a tensão, mesmo cansado recorro à pratica, pelo menos dos exercícios. Mesmo que seja por muito pouco tempo me sinto revigorado porque além de diminuir o estresse, aumenta a autoestima, melhora os reflexos e ajuda muito a trabalhar a respiração, além de melhorar a capacidade cardiovascular”.
Diante da agitação de seu dia entre uma UTI e outra, reuniões com as equipes de trabalho e com membros das diferentes diretorias da Beneficência, além de verificar o estado de cada paciente, e mesmo no dia de folga, frequentemente, vai ao do hospital, perguntamos ao Dr. Sandro Dainez se ele dorme.
A resposta curta como seu tempo, objetiva como é sua atuação, bem humorada como é sua característica e verdadeira como é o estresse:
“Durmo sim. Pouco, mas durmo até em pé”.