A flexibilização da quarentena que permite em Santos e demais cidades da Baixada Santista, a liberação da faixa de areia e calçadão da praia, bem como abertura, com restrições de restaurantes, salões de beleza e academias, deixou apreensivo o cirurgião geral e coloproctologista, Alfredo Fernando Vecchiatti Pommella, Diretor Clínico da Beneficência Portuguesa.
A região passou da fase laranja para a fase amarela do ‘Plano São Paulo’, o plano estadual de combate ao coronavírus e nessa etapa, as cidades devem seguir rígidos protocolos sanitários para a reabertura de diversos setores.
Com a flexibilização há probabilidade de um aumento do contágio por conta não só da exposição nos locais de trabalho, mas principalmente no transporte público e em todos outros setores, podendo, sem alarmismo, mas diante da significativa parcela da população continuar resistente a adoção das medidas de segurança, registrar uma nova onda de contaminação. Isso preocupa o especialista Alfredo Pommella, conforme entrevista a seguir:
Como o senhor recebeu a notícia da flexibilização da quarentena em Santos e região?
Pommella – Recebemos esta notícia com apreensão, pois não acreditamos que todos os municípios estejam estruturados de uma forma homogênea neste momento. O que significa muita gente nas ruas.
Já estamos numa curva descendente de contaminação e a pandemia atingiu o pico na cidade de Santos?
Pommella – Santos fica sempre no meio do caminho em relação ao resto do Estado. Nunca epidemia franca. Mas quando abrirem tudo, podemos ter um aumento do número de casos que necessitem de cuidados e assistência, lembrando que temos uma grande massa de pessoas assintomáticas. Lembramos que o tratamento da Covid não é o isolamento, este é a prevenção enquanto não se encontra uma vacina
Quando uma pandemia atinge o auge não significa que não há mais perigo de contagio. Como explicar isso à grande parcela da população que teima em ir às ruas apenas para se exercitar ou passear?
Pommella – O auge ou o pico de uma epidemia (ou pandemia, quando é nível mundial), significa estar no momento epidemiológico mais “alto” de uma curva, com um número “máximo” de infectados ou contaminados, não significa que não haverá mais contágios. Deve-se explicar claramente à população de forma correta simples e didática, sem causar pânico, para o bom entendimento. O fato de “afrouxar” a quarentena não significa que acabou a epidemia, esta ou qualquer outra.
A flexibilização pode acarretar uma segunda onda da doença e comprometer a estrutura médico hospitalar?
Pommella – Pode sim, temos pessoas que ainda não tiveram contato com o vírus, que podem se contaminar com esta flexibilização, senão tomarem cuidados essenciais, apesar de se ter notado a contaminação mesmo de pessoas que estão na sua quarentena, em casa.
O inverno pode ser considerado um agravante na disseminação do novo coronavírus?
Pommella – A chegada do inverno de forma geral causa um aumento de TODAS as patologias que são transmissíveis por perdigotos e contato com aerossóis, justamente pelo fato de ficarmos mais aglomerados e em ambientes mais fechados, Portanto o inverno é sim um agravante não só para a disseminação do corona, como para a disseminação de QUALQUER doença sazonal típica desta época, o H1N1, Asma, Pneumonia por exemplo.
Colapso hospitalar – Segundo Dr. Pommella, o grande problema que precisa ser encarado nessa pandemia e de forma séria e urgente é que “em conjunto com a Covid, estas e outras doenças também exigirão tratamento hospitalar, e não se deve ter pandemia ou epidemia como culpada pelo colapso hospitalar nas cidades. Sabemos dos graves problemas na saúde pública que serão mascarados justamente pela presença desta pandemia”.