Sabemos que a Farmácia Hospitalar é o setor de apoio técnico às equipes de enfermagem, médica e a outros profissionais. O setor é essencial ao funcionamento de um hospital através da manipulação e dispensação de medicamentos, informações sobre eles, análise de reações adversas, interações medicamentosas e aderência aos protocolos garantindo o uso racional do medicamento.
O objetivo desse setor é garantir o uso racional e seguro dos medicamentos prescritos aos pacientes hospitalizados. Para melhor entender e valorizar o setor, uma entrevista com o farmacêutico Nelson Abraham Mann Metidieri Mendes Cruz Malthez II, da Sociedade Portuguesa de Beneficência, mantenedora dos Hospitais Santo Antônio e Santa Clara.
1 – Como funciona uma farmácia hospitalar?
Nelson Malthez – O funcionamento se baseia praticamente em receber e alocar corretamente os medicamentos, separar e enviá-los ao Posto de Enfermagem para o devido encaminhamento aos pacientes, prestar assistência aos médicos, enfermeiras e técnicas de enfermagem. É imperioso garantir o medicamento correto ao paciente e evitar a falta de medicamentos.
2 – Como o medicamento chega ao setor? Por solicitação do médico e/ou tem alguns que fazem parte do acervo da farmácia?
Nelson Malthez – Os medicamentos são classificados em padronizados e não padronizados. Os primeiros estão disponíveis a todos os pacientes internados e esses são adquiridos semanalmente conforme o consumo. Semanalmente é realizado um levantamento sobre o consumo dos medicamentos padronizados e informamos sobre itens e quantidades existentes, bem como os necessários à central de compras para cotação e aquisição.
Já os medicamentos não padronizados, são adquiridos quando o prescritor solicita (existe uma necessidade). Essa compra segue algumas etapas, começando com a aprovação do convênio, passando para o diretor técnico e financeiro do Hospital.
3 – Qual o caminho percorrido pelo medicamento, desde a chegada a Farmácia até chegar ao paciente? Como é armazenado, selecionado e entregue ao setor solicitante – da compra à dispensação –
Nelson Malthez – “Os medicamentos são entregues no estoque da farmácia, onde realizamos a conferência de lote e validade de cada medicamento conforme nota fiscal. Para os medicamentos termolábeis, aferimos a temperatura com termômetro digital, verificando a temperatura que deve estar entre 2 ºC a 8 ºC. Medicamento termolábel deve chegar em isopor com gelo. Após a conferência imprimimos a ordem de compra para conferir se os medicamentos entregues estão de acordo com o que foi solicitado.
Todos os medicamentos assim que conferidos são alocados nos devidos locais, como por exemplo, os termolábeis em geladeira, os psicotrópicos em locais específicos, os quimioterápicos idem e os outros (pomadas, xaropes, comprimidos e ampolas) em prateleiras conforme sua disposição logística. Na sequência inseridos no sistema usado no hospital mediante documentação de compra. Após essa etapa acontece o fracionamento e confecção de etiquetas, conforme classificação do medicamento. Etiquetas de cores diferenciadas de acordo com situação do medicamento controlado ou não, etc. A etapa seguinte é a unitarização e identificação, registro no livro de fracionamento (nome do medicamento, lote, validade, quantidade a fracionar, data e assinatura do responsável).
A individualização da cartela (blister) de comprimidos é outra etapa de atenção máxima para evitar a exposição do medicamento. O fármaco em ampola segue as mesmas etapas e após esse roteiro o medicamento é guardado conforme logística interna da farmácia”.
Segundo o farmacêutico Nelson Malthez, o passo seguinte é a impressão da prescrição e digitação dos medicamentos na ficha do paciente, verificando a dosagem e possíveis interações medicamentosas. Cabe ao farmacêutico verificar as prescrições, ao auxiliar de farmácia separar os medicamentos conforme prescrição para o período de 24 horas, identificar o destinatário, a dispensação no sistema sendo que todos os fármacos são bipados um a um, na ordem da prescrição.
Todo material bipado e inserido na conta do paciente é feito em duas vias, sendo uma delas anexada ao pacote da medicação e a outra à prescrição para mais uma conferência. Após esse roteiro o material é entregue no Posto de Enfermagem das Alas ou CTI em horário de acordo com a organização do setor, deixando claro que medicamentos guardados em geladeira, pomadas e gotas não são incluídos nessa ‘viagem’. São enviados apenas no momento do uso de acordo com a prescrição.
Como se observa, todas as etapas do caminho percorrido pelo medicamento exigem acompanhamento minucioso.
4 – Como é resolvida a questão criada pela inelegibilidade da letra do médico?
Nelson Malthez – Atualmente essa questão não existe mais pois nossas prescrições são eletrônicas. No entanto, quando as prescrições eram manuais, as dúvidas referentes à inelegibilidade eram resolvidas com o próprio prescritor e na ausência dele, com o médico interno.
5 – Qual é o procedimento quando se trata de medicamento importado?
Nelson Malthez – Esta pergunta é interessante pois ano passado precisamos fazer esse trâmite. O procedimento adotado foi entrar em contato com uma empresa de importação de medicamentos. O hospital efetuou o depósito antecipado conforme variação do dólar do dia. Nesse caso, a compra só é realizada após a autorização do convênio médico, pois como se trata de um medicamento importado, este não tem registro na ANVISA.
Para o farmacêutico Nelson Malthez, cujo nome completo é Nelson Abraham Mann Metidieri Mendes Cruz Malthez II, o trabalho na farmácia é de estrema importância e não há etapa que exija responsabilidade menor que a outra. Todas carecem de atenção máxima para assegurar que o medicamento prescrito pelo médico chegue ao paciente certo.
Nelson que trabalha com uma equipe de cerca de 40 pessoas, incluindo outros farmacêuticos, revela que recentemente a Farmácia da Beneficência iniciou uma *nova rotina “Todos os medicamentos que necessitam de materiais para o seu preparo e diluentes são agrupados em embalagens plásticas como um código de barra, isso chamamos de kit. Por exemplo, o kit novalgina contem 1 ampola de novalgina, 1 seringa de 20ml, 1 agulha para aspiração 40×12 e 1 ampola de água destilada. Somos um dos poucos hospitais da Baixada que disponibilizam esses kits”.
O setor funciona ininterruptamente para atender aos dois hospitais da instituição Santo Antônio e Santa Clara, além dos dois prontos socorros.
*Posteriormente falaremos sobre essa nova rotina