A fisioterapia tem papel fundamental tanto no início do tratamento como na recuperação de várias enfermidades e na covid-19, infecção causada pelo novo coronavírus não é diferente.
Pacientes hospitalizados, principalmente em UTI ficam restritos ao leito, o que, dependendo da gravidade da doença poderá lhe trazer comprometimento respiratórios e articulares. É aí que entra o fisioterapeuta, um dos profissionais da saúde que tem trabalhado incansavelmente na linha de frente no combate à pandemia da Covid-19.
Para conhecer um pouco sobre o trabalho desse profissional que atua na identificação e tratamento de distúrbios e doenças relacionadas ao movimento do corpo e preservar ou melhorar movimento e/ou força muscular dos pacientes, entrevistamos a coordenadora de Fisioterapia da Beneficência Portuguesa, Maria do Carmo Gomes.
Pós graduada em Fisioterapia em Unidade de Terapia Intensiva, a profissional carinhosamente chamada de Do Carmo, trabalhando na instituição há 18 anos é uma verdadeira enciclopédia quando o assunto é Fisioterapia, profissão pela qual não esconde sua paixão. Confira:
1 – Qual é a atuação do fisioterapeuta no combate a Covid-19?
Do Carmo – O Fisioterapeuta atua realizando o gerenciamento da ventilação espontânea, invasiva e não invasiva , realiza a avaliação e a titulação de oxigênio, monitorização do ventilador mecânico e o processo de interrupção gradual do respirador, previne complicações pulmonares por meio de manobras e técnicas específicas e realiza a fisioterapia motora com o intuito de reduzir incidências de agravos relacionados a permanência na UTI.
2 – A atuação do profissional está relacionada à condição respiratória ou motora do paciente de Covid-19, ou a ambas?
Do Carmo – Ambas. Esses pacientes são submetidos a altas doses de sedativos e anti-inflamatórios, somando-se o tempo de internação em uso de ventilação mecânica que interfere tanto nas funções respiratórias como na parte motora.
3 – O que é fisioterapia respiratória?
Do Carmo – É um conjunto de técnicas que podem ser preventivas ou curativas, e tem como objetivo mobilizar secreções, melhorar oxigenação do sangue, promover reexpansão pulmonar, diminuir o trabalho respiratório, reeducar a função respiratória e prevenir complicações.
4 – Quais as técnicas utilizadas nesse tipo de fisioterapia?
Do Carmo – Técnicas de higiene brônquica (vibrocompressão torácica, aspiração de secreções naso/oro/endotraqueal), auxiliando na remoção de secreção pulmonar de pacientes ventilados mecanicamente e em ventilação espontânea, auxílio no posicionamento funcional, incluindo o uso da posição prona (de bruços), recomendada para otimizar a oxigenação arterial, manobras de reexpansão pulmonar na qual podemos utilizar alguns recursos como RPPI (respiração com pressão positiva intermitente, incentivadores respiratórios).
5 – E a fisioterapia motora. Como é aplicada se o paciente está em isolamento?
Do Carmo – Cerca de 30% a 60% dos pacientes internados na UTI desenvolvem fraqueza muscular generalizada relacionada ao imobilismo. Assim a fisioterapia motora tem como objetivo otimizar as funções motoras do paciente, evitando contraturas, deformidades, encurtamentos musculares, maximizando a força muscular e a independência para as atividades da vida diária. O atendimento nas unidades de internação é realizado seguindo as orientações de paramentação e desparamentação. Os profissionais realizam treinamentos constantes oferecidos pela instituição.
6 – O que diferencia o atendimento do fisioterapeuta ao paciente da Covid-19 de outro paciente?
Do Carmo – Em primeiro lugar o cuidado com a paramentação e desparamentação que precisam ser corretas para evitar o contágio, em segundo lugar o fisioterapeuta precisa estar constantemente em busca de informações, artigos, posts, lives grupos que foram formados para troca de informações, tendo em vista que a todo momento estão surgindo novas informações referentes a evolução da doença e os tratamentos.
7 – Tendo em vista a redução da capacidade pulmonar que comprometem a qualidade de vida destes pacientes, qual é a orientação do fisioterapeuta quando eles recebem alta?
Do Carmo – Sabemos através da literatura científica, que os primeiros sete dias depois da alta são decisivos para o desfecho da recuperação funcional desse indivíduo. A maior parte dos pacientes infectados relatam que o “cansaço” permanece por longo período. É necessário o fisioterapeuta orientar atividades físicas leves, que não envolvam o uso de pesos ou outros aparelhos. Cada paciente recebe uma orientação de acordo com o seu quadro clinico.
8 – O que fazer para mostrar às pessoas (pacientes e acompanhantes) a importância da fisioterapia após a alta?
Do Carmo – Procuramos orientar pacientes e familiares em relação a continuidade do tratamento, orientação sobre hábitos de vida saudáveis, manutenção dos exercícios físicos regulares. O papel do fisioterapeuta no âmbito hospitalar ainda hoje não é muito conhecido pela população. Muitas pessoas só conhecem a função de um fisioterapeuta na UTI quando um familiar ou a própria pessoa necessita de nosso atendimento.
(Fotos: Divulgação/SPB)