Mineira de nascimento e santista de coração, faleceu no último domingo, aos 92 anos, a sempre jornalista Helle Alves, cujo velório foi realizado no Serviço Social de Luto da Beneficência Portuguesa. Uma multidão de amigos e admiradores compareceram ao local para se despedir de Helle que se notabilizou por ter sido uma das primeiras repórteres do mundo a noticiar a morte do guerrilheiro Ernesto Guevara, um dos líderes da revolução cubana em 1967.
Helle começou a colaborar com jornais e revistas, aos 15 anos e em 1959, quando era raro ver mulheres em uma redação, ingressou nos Diários Associados. Em outubro de 1967 Hellen foi destacada para a cobertura do julgamento do filósofo, escrito e jornalista francês Jules Régis Debray, que nos anos 1960 acompanhou Che Guevara na guerrilha, especialmente na Bolivia onde foi preso.
Muito simpática e falante, Helle se entrosou rapidamente com funcionários do hotel onde estava hospedada e com moradores dos arredores, quando soube da notícia de Che Guevara morreu em uma emboscada. De imediato deixou de lado a preocupação com o julgamento de Debray e partiu com o fotógrafo Antônio Moura, para a cidadela de Vallegrande, região próxima a Santa Cruz de La Sierra, sudoeste da Bolívia, onde testemunhou o reconhecimento do corpo por integrantes das tropas bolivianas. (Che Guevara tinha sido baleado – um tiro em uma das pernas – um dia antes em La Higuera e levado para Vallegrande onde foi assassinado e teve as mãos amputadas).
A matéria de Helle sacudiu o País, marcando sua carreira no jornalismo, lhe rendendo, inclusive, um processo militar. Autora de quatro livros de poesia e obras sobre as condições dos idosos, em 2012, Helle lançou “Eu Vi, no qual relembra sua trajetória no jornalismo e, principalmente, o dia em que viu Che Guevara morto. Em sua longa carreira, a jornalista entrevistou várias celebridades natas, como o poeta chileno Pablo Neruda, a rainha Elizabeth II, da Inglaterra e alguns dos principais líderes políticos do Brasil, como os presidentes da República Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros.
Exemplo de lucidez, cidadania e amor ao jornalismo, Helle que trabalhou em vários veículos de Comunicação, inclusive em televisão, ficará para sempre na lembrança não apenas daqueles que com ela conviveram, mas também dos profissionais da área de Comunicação que mesmo à distância, com ela muito aprenderam.
A jornalista faleceu em casa vítima de infarto agudo do miocárdio no domingo (27). Seu corpo foi velado na Beneficência Portuguesa e sepultado nesta segunda-feira (28), no Cemitério da Areia Branca, em Santos. (NFM)