O edifício estilo neocolonial em meio ao belo jardim completando o conjunto que ocupa uma quadra no início da Av. Bernardino de Campos (Canal 2), em Santos, sempre chamou a atenção de quem passa por essa via. Trata-se do prédio da Sociedade Portuguesa de Beneficência que completou neste mês de dezembro, 89 anos.
Inaugurado em 1º de dezembro de 1926, o imóvel projetado pelo arquiteto português Ricardo Severo da Fonseca e Costa, tornou-se um marco não apenas na antiga Avenida do Canal, mas da cidade de Santos. A construção do novo hospital atendia as expectativas dos fundadores da entidade, dos portugueses residentes em Santos e da população em geral, porque o antigo hospital, inaugurado em 1878 no bairro Paquetá, devido as obras de expansão do cais e a umidade da região, não tinha condições de ali permanecer.
Esses fatores contribuíram para que fosse iniciada uma campanha para a mudança do hospital da Beneficência Portuguesa. Com a doação de terreno e materiais, em 15 de outubro de 1922, foi lançada a pedra fundamental da construção do atual prédio da instituição, na Av. Bernardino de Campos, 47. O ato que contou com a presença do Consul de Portugal em São Paulo, Dr. José Augusto de Magalhães, se revestiu de grande importância social para a colônia portuguesa, segundo o historiador Jaime Franco. Uma grande comitiva foi recebida pelo então presidente da Beneficência, José da Silva Gomes de Sá, no salão do Hotel Parque Balneário, onde foi servido um almoço. Em seguida os participantes do almoço dirigiram-se para a Avenida do Canal, hoje, Bernardino de Campos, no bairro Campo Grande, um imenso matagal.
E foi em vasto terreno desse grande matagal, que a pedra fundamental do novo prédio da Beneficência Portuguesa foi lançada. Entre os presentes, o engenheiro e escritor português Ricardo Severo (do Escritório de Ramos de Azevedo, praticamente o primeiro a atuar de forma moderna e eficiente na área de Arquitetura, Engenharia e Construção no Brasil), responsável pelo projeto e edificação do novo prédio, cujo edifício principal com três pavimentos destinados à sede social, administração, consultórios médicos, laboratórios e residência de profissionais vindos de outras cidades para trabalhar na instituição, abrigaria também uma capela. Dois pavilhões laterais comportariam quartos para um ou dois pacientes, e demais serviços. Dois outros pavilhões comportariam enfermarias com até 34 leitos cada uma, ainda, pavilhões cirúrgicos, cozinha, refeitórios e um específico para casa de caldeiras e máquinas. Era em verdade, uma obra grandiosa que exigiria grandes somas em dinheiro para sua conclusão.
Apesar dos inúmeros problemas financeiros que culminaram, inclusive com a hipoteca do antigo prédio no Paquetá, muitas campanhas e doações diversas foram realizadas e recebidas, e quatro anos e dois meses depois, mais precisamente em 1º de dezembro de 1926, a população se misturava às autoridades para a inauguração do prédio. A solenidade foi das mais concorridas, com a escadaria de mármore e o elevador, amplo e sólido doado pelo benemérito Bernardo Browne, ficaram lotados de gente que queria acompanhar de perto os discursos de saudação. Foi um acontecimento.
Na tarde daquele dia (1º de dezembro), a Avenida do Canal ganhava um palacete em estilo neocolonial – movimento que se propunha a resgatar a arquitetura e motivos decorativos típicos da época colonial americana de origem ibérica e empregá-los na arquitetura contemporânea, mas que no Brasil, segundo o engenheiro e arquiteto Ricardo Severo, está ligado à busca de uma arte genuinamente nacional – que até os dias atuais chama atenção pelas formas emolduradas pelo jardim fronteiriço, uma das três maiores áreas verdes no centro urbano da Cidade.
A Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos, aos 156 anos de existência – entidade foi fundada em 21 de agosto de 1859 – dispõe de complexo hospitalar formado pelos hospitais Santo Antônio e Santa Clara, dotados de infraestrutura e tecnologia de ponta para atendimento médico hospitalar nas mais diferentes especialidades.
Com fachada e setores internos do Hospital Santo Antônio (edifício que abriga entre outras áreas, a administrativa) tombados pelo Condepasa (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos), o prédio da Beneficência Portuguesa de Santos mantém suas características originais e tem atendido estudantes, historiadores, pesquisadores e outros interessados na história e na arquitetura da instituição e consequentemente na história e arquitetura da Cidade de Santos, da Região Metropolitana da Baixada Santista, do Estado de São Paulo e do Brasil, que a partir do século XIX, tem na Beneficência Portuguesa de Santos, registro de importante capítulo relacionado à saúde e à filantropia.
(Noemi Macedo)